6 de Junho a 31 de Julho | Câmara Escura Inauguração a 6 de Junho, pelas 18 horas Exposição de Rita Magalhães Rita Magalhães nasceu em 1974, no Porto, cidade onde vive e trabalha actualmente. É formada em Pintura pela FBAUP - Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e o seu trabalho divide-se entre esta área e a fotografia, tendo já realizado diversas exposições individuais e colectivas em território nacional e internacional. Está representada em colecções públicas portuguesas e espanholas, de que são exemplo a da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa) e a do CAC - Centro de Arte Contemporânea (Málaga, Espanha), entre várias outras. A fonte do puro olhar A fotografia de Rita Magalhães foi, desde o seu início há quase duas décadas, percorrida por um intenso, desmedido desejo de pintura. Como se a artista compreendesse que, desde sempre, a memória da pintura enquanto tradição de produzir imagens inevitavelmente habitou a fotografia qual cena primitiva. E como se, através desta última, ela procurasse constantemente voltar sobre essa cena primeira, fundadora, original e originária. Nesse sentido se poderia afirmar que o olhar da Rita é como o de Ulisses. É um olhar que incessantemente ali regressa, e a si regressa, como se essa fosse a fonte verdadeira de todo o olhar que foi, é e será. Procurando reconhecer o que apenas se entreviu, uma vez apenas, talvez, ou então o que tão-só se imaginou e sonhou ver-se. O que abre para o campo do que desejou ver-se. (…) Assim, este olhar da artista vai percorrendo o mundo, vendo à sua volta, curioso como o da criança procurando em cada coisa o seu sinal mais secreto, a porta que aos poucos se descerra, o aviso discreto de que algo se aproxima e se divisa ao longe, ao mesmo tempo terno e violento, como no entreabrir das pálpebras depois do sonho, porém ainda antes do acordar. Mas algo que também jamais se poderá captar, pois que se captado para sempre também se perderia. Um olhar todo nascido no silêncio, como se espera sempre do olhar próprio da contemplação, ao mesmo tempo distraído e atento, curioso e indiferente, interior e exterior, película finíssima entre os dois. O que ele capta, então, não são as coisas tal como as vemos, nem as imagens das coisas que nos despertam para elas mas em seu lugar o antes e o depois de elas já serem, ou terem sido. O que fica no meio e as surpreende no caminho de serem. (…) Um olhar assim devolve às coisas o seu mistério, não as quer desenhadas e nítidas, ou abstractas, mas antes cheias de símbolo e distância, operando como agentes de metamorfose. Transfigura. Por isso as cidades que ele vê têm distâncias, luzes, poeira de oiro, uma bruma que dissolve os contornos das coisas como a humidade que sobe do mar ou do rio, e que parece transfigurá-las como se sob a luz vaga de alguma aparição. As cidades fundem-se, alucinatórias quase liquefazem-se, as suas personagens são líquidas e atravessam-nas como se perdessem nelas a forma da inteireza. E a própria luz é um manto que se estende sob o olhar. Não há contornos mas cores, manchas, surdas reverberações de luz e de atmosfera sob um enigmático prisma. (…) Depois das séries que dedicou a Vermeer ou Caravaggio, Ingres ou Délacroix, não surpreende agora que a artista queira mergulhar nesses abismos simbolistas para onde a chama o seu temperamento sonhador de pintora que pinta com a fotografia. (…) E na era da fotografia, Rita Magalhães pinta com as suas fotografias sem ver nisso qualquer problema, bem pelo contrário, já que num plano mais íntimo, que é o da imagem, nada diferencia a pintura da fotografia, antes uma ecoa na outra. Porque a pintura nasce dessa vontade, desse desejo de fixar não as coisas ou a sua imagem mas tão só a impressão das coisas e do mundo, dos seres e das atmosferas, o modo como elas afectam o olhar. (…) Bernardo Pinto de Almeida (2015) horário | segunda a sexta das 14 às 20 horas, sábado das 14 às 18 horas.