O Projecto Travessa da Ermida regressa à programação de 2021 com a exposição “Mau Maria” do artista Camilo Alves (n.1972, Lisboa). Apresentando uma tela a óleo de um modelo feminino e uma série de 12 colagens sobre fotografia, complementados por dois objetos dispostos no espaço expositivo que com aquelas obras se relacionam ou para elas dirigem o observador, dá continuidade ao trabalho que tem vindo a desenvolver em torno do estatuto e da tradição da imagem e, em particular, os do retrato. A exposição é de entrada livre e pode ser visitada até dia 15 de Maio de 2021, na Ermida Nossa Senhora da Conceição, em Belém. Ao longo do seu percurso, a pintura ocupa uma posição axial na abordagem técnica adotada até um momento em que, sem nunca abandonar este domínio, outros processos, materiais e suportes começam evolutivamente a infiltrar-se e a tomar posição igualmente predominante. Em ambos os casos, discerne-se uma intencionalidade provocatória e irónica dirigida ao retrato enquanto gesto cultural, não apenas das normativas desta categoria artística como também das temáticas e discursos em que está historicamente ancorado. Apropriando-se de imagens e iconografia com carga cultural instituída enquanto matéria-prima, e cuja representação figurativa e realista corrompe com puerilidade, contrassenso, sarcasmo ou insolência, o retrato, original, mas eliminado no caso da colagem sobre fotografia, evocado, mas ausente no caso da pintura, é convertido em dispositivo crítico e interrogativo de sentidos e significados deslocados e conduzidos pelo gesto interventivo de Camilo Alves. Na exposição “Mau Maria”, a interjeição proverbial e idiomática de descontentamento que é tomada como título admite ser dirigida ao artista. Sê-lo-á também à mulher, que é personagem principal das obras expostas, como um recurso mais de Camilo Alves à ironia e provocação que emprega igualmente nos títulos das obras, enquanto jogo de palavras no qual a reprovação é afinal a falsa aparência de uma real exaltação.
