21:30 até às 23:30
Desenhos

Desenhos

Depois de mais de dois meses de confinamento, o sput&nik Thewindow irá reabrir as suas portas!!


"desenhos" 
de Manuel Santos Maia

escolhidos por Susana Chiocca 
e texto de João Sousa Cardoso 

Inaugura SÁBADO, 6 Junho, 21h30
na Sputenik the Window

OS NEGROS

As aguarelas sobre papel de Manuel Santos Maia são anotações sobre uma violência orquestrada, só possível de partilhar discorrendo sobre outro assunto. Alinhadas aparentemente por uma poesia pastoral na elegia dos elementos ínfimos, desacompanhados, anónimos e naturais, estas aguarelas revelam-se, afinal, um gesto lustral de catarse e insurreição muda. Surgem como um exercício poético de paciência noturna dedicado aos elementos na sua materialidade sem defesa e na sua parte maldita. Os trilhos, o canavial, as pedras, a água, a flora concentram uma potência particular e reorganizam as forças em seu redor. São encruzilhadas de uma ordem ancestral em incessante renovação. Elementos que habitam o mundo diante de nós – como Marcel Duchamp, Roberto Rossellini e mais dois ou três pediram, com olhar limpo, ao século passado - indiferentes à passagem alterada dos humanos e aos costumes a que chamamos cultura. O mineral, o aquático e o botânico mostram-se parte do ciclo inelutável e surpreendente de germinação, derivação, queda sem fim e retorno. Estas aguarelas anunciam, no silêncio matinal do pescador, estarmos condenados a continuar. 
No conjunto das aguarelas - a que o artista preferiu chamar desenhos -, a paisagística, a matéria e o fenómeno da diluição produzem séries onde todos os elementos se liquefazem no plano brumoso, arenoso e oriental da folha de papel como em Claude Monet ou Joaquín Sorolla. Desenhos balneares, lúdicos, de uma lassidão oceânica e uma esperança cansada que não chegam a impor-se como melancolia porque concentrados no trabalho ardiloso da pintura, na responsabilidade da pincelada, no golpe incerto do olhar. 
As várias séries organizam-se numa coerência de regularidades instáveis: na sucessão intermitente de linhas de cor que introduzem a descontinuidade de um ritmo; na afirmação dos limites da folha papel ou, inversamente, na sugestão da perspetiva (o mar cavo, os terrenos arados, as fileiras de cultivo numa horta); no estabelecimento de relações simples de comparação morfológica entre dois elementos, tornando visíveis afinidades, parentescos e contrastes. Entre o género pictórico da paisagem (campestre e marinhas), o desenho de ilustração científica que, na modernidade, isolou o objeto a pretexto da observação em condições ideias, o motivo vegetalista que evoca as impressões fotográficas em cianotipia, as marcas dos fósseis e a projeção de sombras; entre a coleção de geologia e o museu de arte; inscrito numa genealogia que remonta ao grafismo de Henri Matisse, ao Herbário de Lourdes Castro e aos desenhos de Ângelo de Sousa, no que todos eles têm de africano, Manuel Santos Maia medita sobre o estatuto da imagem, o valor cultural da exposição, a retenção da vida. Interrogação de acrescida atualidade no tempo de uma renovada consciência ecológica, holística, pós-antropocêntrica ocupada pelo problema fundamental da co-habitação, a que as práticas institucionais mostram resistência. 
Tendo Manuel Santos Maia desenvolvido, desde há vinte anos, um corpo de obra de carácter político em torno do colonialismo, das violências de regime e da pós-memória, que implicam problemas estéticos fundamentais, em particular na série Alheava (1999-2020), compreendemos naturalmente que esta exposição de aguarelas votadas a pedras, flores e águas correntes de feição cálida, tratam afinal da palavra calada, da saúde da cidade, da beleza da justiça. São um canto chão que sugere uma redistribuição das potências capaz de lavar dos maus tratos e das fraquezas do poder.

Galeria Sputenik the Window
Rua do Bonjardim, 1340 4000-123, Porto, Portugal 
Tel.:  919 010 716 
sputenik169@gmail.com  
http://sput-e-nik.blogspot.com

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