17:00
Masterclass | TIM BERNE

Masterclass | TIM BERNE

Masterclass 17h00 | Concerto 21h30
Tim Berne | saxofone
Local | Sala de Esgrima (Colégio Almada Negreiros)
Entrada Gratuita | com inscrição) | link disponível em breve.

Esta Masterclass permitirá a partilha de conhecimento por um dos mais importantes e consagrados compositores e improvisadores do novo jazz avant-garde americano dos últimos 40 anos. Nesta ocasião será explorada a ténue fronteira que pode dividir a composição da improvisação que será depois comprovada durante o concerto.


Tim Berne
Biografia escrita por Dave Lynch para o site All Music Guide

Tim Berne, saxofonista alto e barítono, compositor, bandleader e produtor da editora Screwgun, tem uma personalidade musical forte e singular que une as suas obras, diversas e frequentemente absorventes, quase sempre justapondo arranjos meticulosamente anotados com improvisação livre.

Nascido em Syracuse, Nova York, em 1954, Tim Berne comprou o seu primeiro saxofone alto enquanto estudava no Lewis and Clark College, Oregon. Fã de R&B e música da Motown, não estava particularmente interessado em jazz até ouvir o álbum “Dogon A.D.” do saxofonista Julius Hemphill. Imediatamente inspirado pela capacidade de Hemphill de projetar a alma do R&B num contexto de jazz criativo, Berne viajou para a cidade de Nova York, localizou o saxofonista e convenceu-o a dar-lhe umas aulas. A relação mentor-aprendiz evoluiu. Berne administrou as raras apresentações ao vivo de Hemphill e o grande saxofonista forneceu a Berne incentivo para os seus esforços musicais, bem como lições sobre como operar de forma independente. Hemphill, fundador do World Saxophone Quartet e figura importante na cena loft jazz de Nova York dos anos de 1970, morreu em 1995, deixando uma marca considerável na música criativa. Berne cita Hemphill como influência contínua no seu trabalho.

Em 1979, Tim Berne fundou a Empire, a sua primeira editora, produzindo quatro álbuns nos quatro anos seguintes. Essas gravações apresentavam vários músicos que tinham — ou teriam em breve — reputações estelares nos círculos criativos do jazz, como Paul Motian, John Carter, Olu Dara, Vinny Golia, Alex Cline, Nels Cline ou Ed Schuller.

Os esforços de Berne atraíram o interesse do produtor musical italiano Giovanni Bonandrini, cujo selo Soul Note lançou os dois álbuns seguintes do saxofonista, “The Ancestors”, em 1983, e “Mutant Variations”, em 1984. O baterista Paul Motian e o baixista Ed Schuller, que colaboram nas gravações da Empire, participam tabém nos novos discos da Soul Note. Ainda na Soul Note, aparece o trompetista Herb Robertson como novo membro do círculo de Berne. Robertson conheceu Berne numa Loft Session em 1981 e figuraria com destaque em muitas das gravações posteriores e de maior sucesso do saxofonista. Berne cita “Mutant Variations” como o primeiro dos seus álbuns em que as composições foram escritas especificamente para os músicos envolvidos. Anteriormente, ele havia escrito material sem saber exatamente quem estaria disponível para gravá-lo.

Já com seis álbuns como líder, Berne assina contrato com uma grande editora, a Columbia, e ali nela saíram “Fulton Street Maul”, em 1987, e “Sanctified Dreams”, em 1988. O primeiro inclui o violoncelista Hank Roberts, o então guitarrista da ECM Bill Frisell e o baterista Alex Cline. Em “Sanctified Dreams”, Berne surge acompanhado por Roberts e Robertson, a que se juntam o baixista Mark Dresser e o baterista Joey Baron. Este quinteto proporcionou-lhe a oportunidade de desenvolver algumas das suas músicas mais complexas e focadas até hoje. Com os ritmos ora relaxados ora tensos de “Sanctified Dreams”, as linhas melódicas pontiagudas e a atenção aos detalhes texturais, Berne traçou uma direcção que continuaria a explorar profundamente nas gravações subsequentes.

Não sendo um bastião da vanguarda, a Columbia Records acabou por produzir apenas estas duas gravações, terminando assim o relacionamento de Berne com a editora. O alemão Stefan Winter, produtor da editora JMT, de 1989 a 1995, deu ao saxofonista liberdade para prosseguir uma série de projetos desafiantes: I duas gravações do trio colaborativo “Miniature”, com Berne, Roberts e Baron; “Fractured Fairy Tales”, a primeira gravação para a JMT de Berne como líder; e “Pace Yourself” e “Nice View”, da banda Caos Totale. Estas duas gravações lançadas em 1991 e 1993, apresentavam um ensemble mais amplo de músicos, com Robertson, Dresser, o trombonista Steve Swell, o baterista Bobby Previte e o guitarrista francês Marc Ducret, (em “Nice View” também participa o britânico Django Bates nos teclados e na trompa em mi bemol.) As gravações do Caos Totale revelam um Berne maduro e autoconfiante com um estilo de saxofone imediatamente identificável e uma abordagem composicional que avança em direcção a peças de maior formato meticulosamente trabalhadas.

“Diminutive Mysteries (Mostly Hemphill)”, o sincero tributo de Berne ao seu amigo e mentor, foi também lançado pela JMT, apenas dois anos antes de Hemphill, gravemente doente, morrer com um problema cardíaco. O facto de Hemphill ter ficado agradado com esta homenagem é fonte de grande satisfação para Berne.

A carreira de Tim Berne estava prestes a entrar numa nova fase marcada pela formação de uma nova banda importante e de uma segunda editora. Em 1991, Berne uma sessão liderada pelo contrabaixista Michael Formanek para o disco “Extended Animation”, lançado no ano seguinte pela Enja. Em 1992, os dois músicos gravaram juntos novamente, desta vez em trio colaborativo com o baterista Jeff Hirshfield. O resultado foi “Loose Cannon”, lançado pela Soul Note em 1993, uma gravação que revelou Berne e Formanek como equipa de saxofone e contrabaixo particularmente compatível. Berne ficou interessado em liderar õ seu próprio trio com Formanek como baixista, e escolheu Jim Black, recém-chegado de Boston a Nova York, como baterista. Berne logo decidiu que um quarteto serviria como uma saída melhor para o seu "eu” compositor e, seguindo uma recomendação de Black, adicionou o saxofonista tenor e clarinetista Chris Speed ao grupo. (Speed, bem como Black, era originalmente de Seattle e estudou em Boston antes de mudar para Nova York.) Berne tinha agora um novo quarteto, a que deu o nome de Bloodcount. Ainda sob contrato com a JMT, o quarteto rumou para Paris em setembro de 1994 e juntou-se ao guitarrista Marc Ducret para quatro noites a serem gravadas ao vivo. Em 1995, os resultados apareceram numa trilogia de discos da JMT onde os membros do Bloodcount se estendem em improvisações individuais e coletivas que são lentamente reconduzidas a estruturas uníssonas que mantêm a sensibilidade distorcida do R&B de Berne. Composições de formato estendido, agora estendidas para a faixas de 30 a 50 minutos, são preenchidas com episódios de tensão gradualmente crescente com resolução às vezes intencionalmente silenciada em vez de explosiva.
A trilogia de gravações dos concertos em Paris recebeu aclamação considerável, mas a crescente JMT desapareceria logo a seguir, tirando de circulação as gravações de Berne. A Polygram, que tinha tinha um acordo de distribuição com com a JMT, comprou a editora e decidiu fechá-la. O conjunto de gravações de Tim Berne na JMT foi retirado do mercado, e muitas das músicas que escreveu e tocou durante o início dos anos 90 desapareceram. “É como ser apagado”, comentou ele ao The New York Times.

Da maneira característica, Tim Berne avançou e estabeleceu a sua segunda editora independente, a Screwgun, que desde então se tornou o principal veículo de divulgação de seu trabalho. Com tácticas de gravação de guerrilha, embalagem marrom simples e arte gráfica selvagem e rabiscada de Steve Byram, os títulos da Screwgun apresentam Berne na sua forma mais áspera e ousada. “Unwound” do grupo Bloodcount, seria o lançamento inaugural da gravadora em 1996, e é uma explosão energética de três discos gravados ao vivo pelo quarteto principal (menos Ducret) em clubes em Berlim e Ann Arbor, Michigan.

Seguir-se-ia uma série de gravações ainda durante os anos de 1990, incluindo “Discretion” e “Saturation Point” dos Bloodcount e “Visitation Rites” e “Please Advise” do grupo Paraphrase, o novo trio de improvisação com o baixista Drew Gress e o baterista Tom Rainey.

Entretanto, Tim Berne também continua a aparecer noutras editoras. “I Think They Liked It Honey”, do trio Big Satan formado por Berne, Ducret e Rainey, foi lançado pelo selo Winter & Winter de Stefan Winter em 1997; outros CDs recentes incluem “Ornery People” da dupla Berne e Formanek na Little Brother Records, “Cause and Reflect” de Berne e Hank Roberts na Level Green, e “Melquiades” da banda italiana Enten Eller (com Berne como saxofonista alto convidado) na Splasc(h) Records. No Bell Atlantic Jazz Festival de Junho de 2000, na cidade de Nova York, Berne estreou dois novos conjuntos, ambos com o teclista originário de Detroit e colaborador de Roscoe Mitchell, Craig Taborn, junto com membros do grupo Big Satan. “The Shell Game” foi lançado pelo trio Hard Cell no ano seguinte, e 2002 e 2003 viram o lançamento de “Science Friction” e “The Sublime And” pelo quarteto Science Friction de Berne e de “Souls Saved Hear” com Big Satan para a Thirsty Ear. Em 2005, “Hard Cell Live” e “Feign” foram lançados pela Screwgun; “Big Satan Live in Cognito” apareceu pela mesma editora em 2006.

Nos anos seguintes, Berne gravou novos trabalhos e publicou material de arquivo na Screwgun. Além disso, participou numa série de gravações importantes, como “Prezens” de David Torn e “The Rub and Spare Change” de Formanek (ambos da ECM), “Irrational Numbers” de Drew Gress, “Real Aberration” de Herb Robertson e “Nebulosa” de Hugo Carvalhais. Para além disto tudo, também encontrou tempo para lançar “Buffalo Collision by Duck”, um coletivo que também contava com Roberts, o pianista Ethan Iverson e o baterista Dave King.

2011 foi um ano fecundo para o saxofonista e compositor. A editora portuguesa Clean Feed lançou o disco de um grupo alargado, “Insomnia”, e “Old and Unwise”, dueto com o contrabaixista Bruno Chevillon. A Cryptogramophone lançou “The Veil: Live at the Stone”, um trio com o guitarrista Nels Cline e o baterista Jim Black, enquanto o selo italiano Auand lançou “Intollerant” pela banda Mr. Rencore + Tim Berne. O saxofonista também apareceu em gravações de Simon Fell e Ducret.

Assinado um contrato com a ECM no final do ano, Berne formou o grupo Snakeoil acompanhado do baterista Ches Smith, do clarinetista Oscar Noriega e do pianista Matt Mitchell. O disco homónimo foi lançado em 2012. No mesmo ano, participou no álbum de Michael Formanek Small Places, pela mesma editora. “Shadowman”, o segundo álbum de Snakeoil, foi lançado pela ECM em 2013; entretanto, Berne apareceu em gravações de Gress, Salo Salomon e Ches Smith. Agregando ao Snakeoil o guitarrista Ryan Ferreira, voltou ao estúdio com Torn como produtor e lançou “You've Been Watching Me”, ainda na ECM em 2015. Nesse mesmo ano, Berne publica “Spare”, na Screwgun: livro de edição limitada com ilustrações do colaborador de longa data Steve Byram ao lado dos seus desenhos irregulares e das fotografias de rostos nebulosos e céus baixos de Berne. Incluía ma gravação ao vivo de Snakeoil e esgotou rapidamente.

Dois anos depois, Snakeoil, com o quinto elemento, o produtor/engenheiro, membro de facto, David Torn, lançou “Incidentals” na ECM. Em 2019, Torn, Smith e Berne gravam uma sessão em trio “Sun of Goldfinger” para a editora de Munique. O saxofonista fez a sua primeira aparição na Intakt Records com o Very Practical Trio de Formanek (que também inclui a guitarrista Mary Halvorson) em “Even Better”. O contacto inicial com a Intakt foi frutuoso: o grupo Snakeoil (com Ducret substituindo Ferreira e Torn como produtor) lançou sua estreia na editora Suíça: “The Fantastic Mrs. 10”. Desde então até 2024, saíram pela Intakt mais 5 discos de grande qualidade, na que parece mais uma relação duradora e frutuosa entre Tim Berne e uma editora.

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