A Mercearia de Arte acolhe a apresentação do livro “Antonio Averlino Filarete - A cidade ideal”, e da coleção onde este se insere, e que a encerra, “Sebentas de História da Arquitectura Moderna”, da Dafne Editora, a 5 de dezembro, pelas 18 horas, com a presença do autor Domingos Tavares e José António Bandeirinha. Com a edição de Filarete conclui-se a publicação das Sebentas de História da Arquitectura Moderna, da autoria de Domingos Tavares. Desde 2003, a Dafne Editora tem vindo a lançar regularmente estes pequenos livros, versando temas do ciclo clássico da arquitectura europeia, desde o Renascimento florentino até ao final do período Neoclássico. O resultado foi uma colecção de 23 monografias, cada uma sob o título de um artista-arquitecto, onde se dá a conhecer a biografia dos protagonistas enquadrada nos principais temas e preocupações da época em que viveram. O lançamento deste livro, onze anos após a publicação do par Brunelleschi/Neumann (que inaugurou também as publicações da Dafne Editora) confirma que não é fácil, mas é possível, continuar a fazer mais e melhores livros de arquitectura em Portugal. As Sebentas de História da Arquitectura Moderna são a espinha dorsal da Dafne Editora que, entretanto, foi capaz de explorar caminhos complementares para que a história da arquitectura não viva só e seja útil para construir o presente. No espaço social da biblioteca, nos bancos do metro, na areia da praia ou sob luz confortável do sofá (ou noutro lugar qualquer), as Sebentas de História da Arquitectura Moderna partem agora ao encontro dos seus leitores. Mais informações: Filarete, um humanista do Renascimento formado no seio da vanguarda florentina de quatrocentos, andou sempre por caminhos trocados, presente no tempo errado de cada lugar que lhe coube percorrer. Requisitado por Papas e príncipes como notável artista, capaz de transportar para outros territórios os sinais da modernidade nascente, não foi feliz na actuação prática nem capaz de superar os obstáculos que a sorte dos dias ia colocando no seu caminho. Frustrado pela incompreensão dos que o deviam acompanhar nas acções de revolucionar as artes ao serviço dos novos senhores, mas seguro das razões que o levavam a admirar as teses de Brunelleschi e Alberti, registou com toda a convicção em vinte e quatro livros de arquitectura o manancial de saberes e experiências colhidos ao longo de uma vida, não sabemos se sofrida ou satisfeita. A partir do seu tratado, o nome Filarete ficou associado à ideia de Cidade Ideal. Os intelectuais do Renascimento tomaram das civilizações clássicas o mesmo entendimento definido pelos filósofos da Mileto pré-hipodâmica, em que o Homem, entidade primordial, é o observador capaz de entender o círculo do horizonte e dele extrair o conceito de centralidade, da ordem geométrica, da racionalização dos impulsos perante as evidências da natureza. Leram em Vitrúvio como deveriam ser organizadas as cidades. Correctamente dispostas no terreno numa estrutura radial adequada ao diagrama dos ventos, com as ruas a partir do centro e com limites bem marcados por muros dispostos em octógono regular. Discurso abstracto, não longe do pressuposto didáctico da imposição de regras gerais e universais, que favorecia a especulação teórica e, uma vez mais, o pensamento ordenado segundo princípios geométricos. Parece que a noção de cidade ideal, a que se consubstancia no espírito de um ser humano inteligente, capaz de absorver em síntese criativa a extrema complexidade da vida em colectivo, nunca conseguirá passar à prática enquanto cidade perfeita. Nem a atitude projetual séria, preparada para intervir em contexto real, se pode confundir com a utopia. Esta é irrealizável por definição, compõe um cenário de felicidade pretendida que se liberta de todos os constrangimentos para que o modelo social suportador da forma possa ser coerente e compreensível. É por isso que a utopia não pode sair do campo da obra literária, tal como a cidade ideal nunca conseguiu ultrapassar a escala do plano, sempre longe da realidade. Domingos Tavares (Ovar, 1939) é arquitecto e Professor Emérito da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde ensinou desde 1985 a disciplina que deu origem às Sebentas de História da Arquitectura Moderna publicadas pela Dafne Editora desde 2003. Autor dos livros Da Rua Formosa à Firmeza (Faup, 1985) e Francisco Farinhas Realismo Moderno (Dafne, 2007). José António Bandeirinha (Coimbra, 1958) é arquiteto pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto (1983). Exerce profissionalmente e é professor associado do Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, onde se doutorou em 2002 com uma dissertação intitulada O Processo SAAL e a Arquitetura no 25 de abril de 1974. Tomando como referência central a arquitetura e a organização do espaço, tem vindo a dedicar-se ao estudo de diversos temas — cidade, teatro, cultura. É investigador do Centro de Estudos Sociais. Foi Presidente do Conselho de Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra. Foi Pró-Reitor para a Cultura da Universidade de Coimbra. Foi Diretor do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra.