"Pedro Gomes & Maria Trabulo" Curadoria de Alexandre Melo "VISTAS E PANORAMAS O que é que cada pessoa vê? Como vê? Talvez não sejam questões fisiológicas, tecnológicas ou sequer estéticas. Talvez sejam sobretudo éticas e poéticas. Não sei quem saberá dizer o que é que se vê de noite ou de dia olhando para o mar ou para o céu ou olhando à volta no meio do mar ou no meio do céu, olhando em frente ou para baixo ou para cima, no meio de uma rua rodeada de prédios e talvez de árvores, numa praia ou numa varanda, no topo de um arranha-céus ou no fundo de um barco. Poderíamos dizer que se pode ver tudo. Tudo o que nos rodeia como se dizia na época heróica em que se pensava que poderíamos tomar consciência (era assim que se dizia) da realidade que nos rodeava. O tempo em que se sonhava com a possibilidade de a razão ou a representação darem conta e tomarem conta da realidade. Era esse o objetivo utópico dos “panoramas”. Também se pode dizer que se pode não ver nada. Nada é talvez o que vê a multidão de néscios que onde quer que estejam olham para um pequeno ecrã onde é impossível ver imagens ou palavras que tenham qualquer relação com um pensamento e portanto com (a possibilidade de um pensamento em relação com) a realidade. Sugerimos perguntas e possibilidades que não permitem respostas mas sugerem problemas, investigações e especulações tanto mais frutíferas quanto menos subjugadas por preconceitos ideológicos e mais abertas à necessidade de complexificação e multiplicação de pontos de vista. É por isso que são os artistas que nos continuam a oferecer os melhores recursos para abordar estas questões. Os trabalhos de Maria Trabulo incluídos nesta exposição remetem para uma problematização da visão e representação do mar. Um arco de vastas temáticas desde as mais abstratas especulações líricas ou metafísicas até às mais dramáticas realidades sociais quotidianas. Como se olha e o que se vê ao olhar o mar? O que subjaz a essas visões e que resta delas? Cores, texturas, luz, escuridão, sal, lágrimas... Os trabalhos de Pedro Gomes incluídos nesta exposição talvez remetam para uma problematização da visão e representação da arquitetura (na aceção lata de espaços construídos). Como se pode ver e perceber a imagem de uma cidade, edifícios, um espaço de exposição? O que guarda a memória da experiência de andar e olhar no meio da rua ou de um museu? As obras destes artistas mobilizam, com refinada elegância e obstinado rigor, valores formais específicos inerentes às práticas artísticas numa vertente às vezes próxima da abstração. Temos linhas (de desenho, horizonte, fuga), cores ou a sua ausência, texturas, sobreposições e re-composições de fragmentos, camadas, hipóteses de representação, evocação e convocação de imagens e imaginações de visões e experiências de realidades. Mapas, padrões, modelos. No entanto, antes e depois dos valores formais, julgo ser aqui decisiva a presença e a oferta da possibilidade de compreender que aquilo que cada um vê depende da localização do ponto de vista que adota e, sobretudo, da arqueologia da memória inscrita e do fôlego dos desejos e aspirações projetados pelo olhar de cada um de nós." Alexandre Melo PROJECT ROOM ±MAISMENOS± ±MaisMenos± é um projecto artístico de intervenção da autoria de Miguel Januário, iniciado em 2005 no âmbito de uma investigação académica, que reflecte sobre o modelo de organização política, social e económica da sociedade actual. O projecto manifesta-se fundamentalmente através de intervenções no espaço público nos mais variados contextos e através de inúmeras linguagens, procurando estimular e fomentar discussão e pensamento crítico. Tornou-se um projecto artístico de referência, participando regularmente em exposições, conferências e festivais nacionais e internacionais. Sob a bandeira ‘±MaisMenos±’, o autor produziu diversos trabalhos criativos, tanto em contextos fechados como exteriores, numa variedade de media, desde vídeo a instalação, pintura a performance. Além de inúmeras intervenções ilegais de arte pública em diversos países, o projeto foi também exibido em exposições individuais e de grupo em vários contextos institucionais, dos quais se destacam a Galeria Vera Cortês (Lisboa, 2010), MACE-Museu de Arte Contemporânea de Elvas (Elvas, 2011, 2014), Galeria Underdogs (Lisboa, 2013, 2014, 2015), Caixa Cultural (Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, 2014), Museu do Côa (Vila Nova de Foz Côa, 2015), Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (Bragança, 2015), MUDE-Museu do Design e da Moda (Lisboa, 2016), MACRO-Museu de Arte Contemporânea de Roma (Roma, 2016), Galeria Wunderkammern (Roma, 2017), Galeria Celaya Brothers (Cidade do México, 2018), Arco Lisboa (Lisboa, 2018), WTF Gallery (Banguecoque, 2018) e festivais e eventos de arte como Walk&Talk (São Miguel, Açores, 2011), Guimarães Capital Europeia da Cultura (Guimarães, 2012), La Tour Paris 13 (Paris, 2013), Wool Festival (Covilhã, 2014), Nuart Festival (Stavanger, 2014, 2017), Festival Iminente (Oeiras, 2016, 2017, Londres, 2017, Lisboa, 2018, Rio de Janeiro, 2019), Forgotten Project (Roma, 2016), TrashPlant Festival (Tenerife, 2018), Roskilde Festival (Roskilde, 2018) e Alter Ego (Macau, 2018). O ‘±MaisMenos±’ foi também objecto de duas TED talks, TEDxLuanda (Luanda, 2014) e TEDxPorto (Porto, 2015), assim como outras palestras públicas e académicas, tanto a nível nacional, como internacional. O projeto é também o foco da corrente investigação de doutoramento de Miguel Januário na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.