Nos últimos seis anos, percorri o equivalente a duas circum-navegações à Terra. Mergulhei na Humanidade e nos produtos das suas culturas. Vi beleza e podridão como nunca achei possível. Caminhei com homens santos, meditei no lugar onde Buda nasceu, visitei cidades enterradas em desertos, vi o Sol nascer na Sibéria e pôr-se nos Himalaias. Todas estas viagens empalidecem perante a mais profunda de todas: a jornada em direção ao Eu, a navegação pelos mares do inconsciente e da memória. Essa sim, uma viagem infinitamente mais dura e assustadora; a perdição e a salvação amalgamadas. Houve alturas em que não soube quando acabava uma e começava a outra. Viajar com o objectivo de recolher informação, o seu processamento e subsequente transformação em obras multifacetadas e híbridas tornou-se no meu modus operandi para produção artística. As imagens, vídeos e som que utilizo no meu trabalho são capturados e pós-produzidos por mim in situ em diferentes territórios do planeta. Numa primeira fase, o meu atelier cabe numa mochila e nos circuitos digitais de um computador. Numa segunda, isolo-me do mundo, analiso, catalogo, e transformo de forma obsessiva. Comecei a entender o ato de edição – corte e colagem - como construtor de narrativas ficcionais com base na realidade. Com a minha prática, quero provocar uma reflexão sobre os mistérios e paradoxos da existência humana no contexto da complexa condição contemporânea. Como criar narrativas num mundo onde elas aparentemente já não existem? Que lugar tem a espiritualidade num mundo sem espírito? A sociedade em rede dilui conflitos, mas estes conflitos continuam a existir. Acredito que a Arte tenta chegar perto do Um. Ambiciono uma unificação no meu trabalho que só pode existir nele e que não pode ser encontrada na realidade. Uma teoria poética do tudo. O meu nomadismo é um nomadismo ideal ou idealizante. Procuro algo que não sei o que é e que possivelmente nem existe. António F. Duarte
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