DA VIDA NUA À POTÊNCIA DESTITUINTE: O PROJECTO ‘HOMO SACER’ DE GIORGIO AGAMBEN 21 de Fevereiro | 10-18h | Salão do Atelier Re.al Com António Guerreiro, António Bento, José Tolentino Mendonça, Alexandre Franco de Sá, André Dias, Luhuna Carvalho, Ana Isabel Cardoso Figueiredo, António Caselas, Nuno Leão, Luís Carneiro, José Caselas, João Duarte, Bruno Lamas, Ricardo Noronha, João Pedro Cachopo, Bruno Peixe Dias e Unipop. Organização: Unipop [http://unipop.info/] Entrada livre Ao longo dos últimos vinte anos, o filósofo italiano Giorgio Agamben dedicou-se à publicação de uma série de o̶i̶t̶o̶ nove volumes, agrupados pelo título homónimo do primeiro – «Homo sacer» (1995) –, que configura um dos mais radicais projectos da filosofia política contemporânea, enquanto genealogia das categorias políticas que dominam a nossa modernidade. Pese embora consista em arqueologias de natureza predominantemente filológica sobre domínios que raramente vemos conjugados e que ainda se tende a julgar excêntricos à actualidade da política, como o direito arcaico, a teologia medieval ou as comunidades monásticas, esta série mostrou-se, no seguimento de Foucault, decisiva para a configuração de problemas como a biopolítica e a governamentalidade. O seu carácter provocatório, bem como a sua recusa intransigente em oferecer quaisquer linhas de orientação ou programas para a acção política, não a manteve isenta de críticas àquela que seria uma dimensão estritamente negativa da sua teoria. Ainda assim, esta particular emergência de conceitos – de «vida nua» a «potência destituinte» –, recentemente concluída com «L’uso dei corpi» (2014) e aumentada com «Stasis. La guerra civile come paradigma politico» (2015), tem-se revelado – à justa medida da sua violência e paradoxalidade – indispensável para chegar a pensar hoje uma política por vir. Dar conta deste projecto agora findo requer uma espécie de passo atrás na leitura embrenhada (ou na apropriação desenvolta) para procurar colocá-lo num horizonte de inteligibilidade o mais abrangente possível. Assim, a Unipop propõe uma jornada composta por duas mesas-redondas alargadas com breves intervenções de investigadores convidados pela sua heterogeneidade e metodologias diversas, da teologia às ciências sociais e filosofia das práticas artísticas, entremeadas por discussões abertas a todos os presentes. Enquanto a primeira mesa-redonda (de manhã) será inteiramente dedicada à reavaliação da série ‘Homo sacer’, questionando a sua organização, alcance e âmbito propriamente filosófico, a segunda (de tarde) tentará cartografar algumas das consequências políticas, jurídicas e artísticas, bem como antecipar através das quais, com alguma probabilidade, este projecto continuará a ressoar. PROGRAMA 10:00 mesa-redonda: A REAVALIAÇÃO DO PROJECTO 'HOMO SACER' Intervenções de António Guerreiro sobre a relação entre categorias linguísticas e categorias políticas, António Bento acerca de pacto e promessa numa arqueologia da dívida (‘Homo sacer’, II, 4), José Tolentino Mendonça em torno das modalidades de uma ética messiânica, Alexandre Franco de Sá sobre a anarquia, André Dias interrogando que espaço corresponde à não-relação de poder, Luhuna Carvalho entre a potência destituinte e o cuidado de si, Ana Isabel Cardoso Figueiredo a respeito da (des)sacralização do corpo, António Caselas com a categorização final do “sacer” através de negação, forma de vida e uso, com moderação de Bruno Peixe Dias. Intervalo para almoço 14:30 mesa-redonda: ANTECIPAÇÃO DAS CONSEQUÊNCIAS Intervenções de Nuno Leão questionando o governo do ingovernável, Luís Carneiro explorando a relação entre sacralidade e governamentalidade, José Caselas a respeito de figuras actuais como a sobrevida e o neo-morto, João Duarte sobre a lógica imunitária da reprodutibilidade técnica da política, Bruno Lamas acerca da “vida sem valor” entre fetiche do capital e economia política da vida nua, Ricardo Noronha acerca da “stasis” de guerra e política na cidade dividida, João Pedro Cachopo sobre as consequências político-literárias, entre o literal e o alegórico, da leitura de Bartleby, e Bruno Peixe Dias como relator final, com moderação de André Dias. Fotografia: Sónia, por Filipa Castro