22:00 até às 01:00
Cabrita | Faianças Brancas

Cabrita | Faianças Brancas

CABRITA
Faianças Brancas

1990. Lembro-me com nitidez o impacto que me causou A Casa da Serenidade de Pedro Cabrita Reis na exposição inaugural da Galeria Pedro Oliveira na Calçada de Monchique. No corredor paralelo ao rio Douro uma instalação dominava o espaço, tudo absorvendo menos o silêncio visual que a austeridade formal da obra drasticamente impunha. Atirado para um território sem tempo e sem nome, o espetador poderia reconhecer aí as mais ténues e distantes teias de relação do homem com a natureza na fragilidade da construção sugerida, e os ecoantes murmúrios partilhados e reiterados no desfiar dos séculos de compromissos possíveis, ruturas anunciadas ou exultações de um amor prometido.
Assim são as obras de Cabrita. Ancoradas na economia de meios que tanto pode referenciar o minimalismo como a arte povera, elas são essencialmente construções metafóricas que apontam para as grandes questões que atravessam a história da humanidade e, claro, a especificidade da história da arte. Cabrita dialoga melhor e mais fluentemente com Caravaggio do que com o ruído de muita da arte sua contemporânea. Cabrita detém-se em sobressalto quando descobre um velho teatro com uma porta entreaberta e as suas cadeiras cobertas de panos brancos; vê a primordialidade da representação da paisagem numa linha única (que pode ser a linha do horizonte do mar que tanto ama, como aquela que risca com assertividade no branco do papel que assim carrega nesse sulco todos os riscos antes imaginados e pensados).
Assim são as Faianças de Cabrita. Repensar uma tradição secular e transportá-la para o universo da criação contemporânea pode resultar no mais constrangedor dos resultados. A grandeza de Cabrita revela-se novamente aqui mediante uma estratégia que determina grande parte da sua produção: nunca se atendo a um género ou meio, as suas obras, mesmo estas Faianças, são pintura, são escultura, são desenho, são instalação. É no trânsito entre a primordialidade da parte e o sublime do todo que esta exposição ganha uma densidade única. 
Estas peças são remanescentes de uma arqueologia do futuro: na projeção do desconhecido, veremos confirmadas nas suas formas todas as especulações, inquietações, e desígnios inomináveis que formos capazes de pensar. Elas serão o conforto sussurrado na certeza da possibilidade da arte.
Estas peças são uma celebração do erotismo vital que de modo redentor mitiga a digitalização de todas as interações possíveis. Dobras, pregas, lábios e orifícios consubstanciam linhas de uma sensualidade devassadora.
Estas peças são seres antiquíssimos descobertos no fundo do mar onde o classicismo se esconde na vergonha do presente.

Miguel von Hafe Pérez

* Faianças Brancas peças únicas de Pedro Cabrita Reis executadas na Fábrica Bordallo Pinheiro, Caldas da Rainha, 2019

Patente: 21 Setembro 2019 a 11 Janeiro 2020
Terça a Sábado das 15h às 20h 
Galeria Pedro Oliveira 
Calçada de Monchique, 3 . 4050-393 Porto 
T. (+351) 222007131 | M. (+351) 918494794)
gpo@galeriapedrooliveira.com | www.galeriapedrooliveira.com 

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CABRITA
White Faience


1990. I vividly remember the impact that Pedro Cabrita Reis' House of Serenity had on me, at the Galeria Pedro Oliveira’s inaugural exhibition, in the Calçada de Monchique. In the corridor running parallel to the Douro River the installation dominated the space, absorbing everything except for the visual silence drastically imposed by its formal austerity. Hurled into a timeless and nameless territory, the viewer was able to recognise therein the faintest and most distant webs of man's relationship with nature, in the fragility of the suggested construction, and the echoing murmurs shared and reiterated across centuries of possible commitments, announced ruptures or exultations of a promised love.
This is typical of Cabrita’s works. Anchored in an economy of resources, reminiscent of both minimalism and arte povera, they are essentially metaphorical constructions that evoke the great questions of the history of mankind and, of course, the specificity of the history of art. Cabrita dialogues better, and more fluently, with Caravaggio than with the noise of the majority of contemporary art. He is startled when he discovers an old theatre, with its door ajar and its chairs covered with white cloth. He sees the primordiality of representation of the landscape in a single line (which may be the horizon line of his beloved sea, or the line that assertively crosses the blank page, carrying in its groove every previously imagined contour).
This is also the case with Cabrita’s Faianças (earthenware). By rethinking a secular tradition and transporting it to the universe of contemporary artistic creation he delivers an extremely compelling result. Cabrita's greatness is once again revealed through a strategy that determines much of his production: he never restricts himself to one genre or medium. His works, even these Faianças, correspond to painting, sculpture, drawing and installation. This exhibition gains its unique density through the transit between the primacy of the part and the sublime nature of the whole.
These works are reminiscent of an archaeology of the future: in the projection of the unknown, their forms confirm all the speculations, anxieties, and nameless goals that we can conceive. They offer comfort whispered in the certainty of the possibility of art.
These works are a celebration of a vital eroticism that, in a redemptory fashion, can mitigate the digitisation of all possible interactions. Folds, creases, lips and orifices consubstantiate lines of devastating sensuality.
These works are ancient creatures discovered at the bottom of the sea, where classicism is hidden in the shame of the present.

Miguel von Hafe Pérez

* White Faience unique pieces by Pedro Cabrita Reis produced at Bordallo Pinheiro Factory, Caldas da Rainha, Portugal, 2019

21 September 2019 - 11 January 2020
Tuesday - Saturday 3-8pm 
Galeria Pedro Oliveira 
Calçada de Monchique, 3 . 4050-393 Porto 
T. (+351) 222007131 | M. (+351) 918494794)
gpo@galeriapedrooliveira.com | www.galeriapedrooliveira.com
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