Mindfulness ou Despertar da Consciência? A meditação e a contemplação numa encruzilhada (Colóquio e apresentação de livro) Programa: 14:00 – Abertura do Colóquio 14: 15 – 15:45 Bruno Antunes, Para uma Ciência Feliz. Da razão instrumental à compreensão da interdependência: uma genealogia intercultural. Paulo Feitais, A abertura do coração: contemplação e consciência templar Tiago Ribeiro, Espaço Edénico e Fulgor Contemplativo no Texto de M. G. Llansol 15:45 – 16:45 António Carvalho, Ecologias do sujeito: meditação, afeto e ecosofia José Eduardo Reis, 'O nosso encontro com a vida' de Thich Nhat Hanh ou a actualização dos ensinamentos do Buda sobre a vida no momento presente". 16:45 – 17:00 - Pausa 17:00 – 18:30 Paula Morais, As vias tradicionais de libertação numa cultura da performance ou Cuidado, Casimiro, cuidado com as levitações! Fabrizio Boscaglia, Contemplação e Meditação na Espiritualidade Islâmica Paulo Borges, Contemplar a vacuidade ou a experiência do princípio feminino no budismo tântrico 19:00 - Carlos João Correia, Apresentação do livro de Paulo Borges, “Meditação, a Liberdade Silenciosa. Da mindfulness ao despertar da consciência” (Lisboa, Mahatma, 2017). Friedrich Nietzsche escreveu, em Humano, Demasiado Humano (1878), serem “talvez as prioridades dos nossos tempos que acarretam um retrocesso e uma eventual depreciação da vita contemplativa”, considerando que, “dada a enorme aceleração da vida, o espírito e o olhar são acostumados a ver e a julgar parcial ou erradamente, e toda a gente se assemelha aos viajantes que ficam a conhecer um país e um povo, vendo-os do caminho-de-ferro” (frag. 282). Noutra passagem da mesma obra escreve: “Por falta de sossego, a nossa civilização vai dar a uma nova barbárie. Em nenhuma época, os activos, ou seja, os irrequietos, foram tão considerados. Reforçar em grande medida o elemento contemplativo faz parte, por conseguinte, das necessárias correcções que se têm de efectuar no carácter da humanidade” (frag. 285). Acrescenta que esta “lamentação (...) terá provavelmente a sua época e calar-se-á por si própria, um dia, quando se se der o regresso em força do génio da meditação” (frag. 282). Byung-Chul Han considera ser “precisamente a perda da capacidade contemplativa - que está em igual correspondência com a absolutização da vita activa – que leva em grande medida à histeria e ao nervosismo da sociedade moderna da acção”, por si diagnosticada como a “sociedade do cansaço”, da auto-exploração, da depressão e do esgotamento (A Sociedade do Cansaço, 2010). Segundo o filósofo coreano, a “crise actual” vincula-se à “absolutização da vita activa”, conducente a um “imperativo do trabalho, que degrada a pessoa em animal laborans” e lhe faz perder o “mundo” e o “tempo”. Perante isto, conclui ser necessário revitalizar a contemplação, pois esta situação só será superada “no momento em que a vita activa, em plena crise, acolha de novo a vita contemplativa no seu seio” e “volte a pôr-se ao seu serviço” (O Aroma do Tempo. Um ensaio filosófico sobre a arte da demora, 2009). Recorrendo à expressão nietzschiana, parece que hoje regressa em força o “génio da meditação”, atendendo à redescoberta da experiência meditativa e contemplativa pela civilização ocidental, seja no domínio de um renovado interesse pela espiritualidade, não necessariamente vinculada às religiões tradicionais, seja na esfera do fenómeno da mindfulness, que está no centro do interesse das neurociências e penetra os cuidados de saúde, a educação e a vida empresarial. A situação é todavia ambígua, sendo importante discernir entre um movimento que procura efectivamente corrigir ou inverter o rumo da civilização global, reorientando a vida activa para a vida contemplativa, ao reconhecer que, como dizia Agostinho da Silva, “a técnica só deve servir para que possa haver mais ócio e cada um seja mais livre para contemplar e criar”, e um movimento que, sob a aparência de revalorizar a experiência meditativa e contemplativa, na verdade a instrumentaliza como um mero paliativo dos excessos da vida activa ou um método para a reforçar, concretamente desenvolvendo a produtividade nas empresas, como tende a acontecer nalgumas aplicações práticas da mindfulness. A meditação e a contemplação estão assim numa encruzilhada entre a sua tradicional vocação de vias de libertação da vida e da consciência e a sua recuperação instrumental como técnicas ao serviço do bem-estar superficial e do reforço do produtivismo dominante. Este Colóquio visa reflectir criticamente sobre este fenómeno, na perspectiva das tradições contemplativas, mas também da experiência contemplativa na filosofia e na literatura. Organização: Seminário Permanente “VITA CONTEMPLATIVA – Práticas Contemplativas e Cultura Contemporânea” do Grupo de Filosofia Prática do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa Apoio: Círculo do Entre-Ser, associação filosófica e ética Entrada Livre