A editora BOCA tem o prazer de apresentar o livro & CD "Como um pedaço de terra virgem" Obra de uma vida, esta antologia quase completa é simultaneamente a estreia editorial de Virgínia Dias, aos 84 anos, depois de meia-dúzia de poemas publicados em revistas e edições colectivas. O áudio de 64 minutos que a acompanha junta gravações realizadas em 2018 com outras gentilmente cedidas por Pierre-Marie Goulet da triologia que iniciou em 1997 com o filme Encontros"". O registo em forma de conversa testemunha o modo especial como a autora encadeia poemas, canções e as estórias que lhes estão na origem. A edição conta com prefácio de José Mário Branco e fotografias de António Cunha e Luís Ferreira Alves. Apoio: Direção Regional de Cultura do Alentejo Não esperem ver rosas na minha poesia Não esperem ver rosas na minha poesia. Não tenho rosas. Na terra do canteiro que a vida me destina só se criam papoilas. Nem esperem vê‐la em trajes de cetim, é riscado e chita o que tenho à mão. Nem vê‐la a passear nas ruas da cidade, em citações filosóficas de sábios doutores. Nem de nome os conheço. Nunca subi à cidade nem a cidade desceu à minha aldeia. Conheço sim o mendigo, o maltês, figuras trágicas de desespero e sofrimento, sempre envoltas numa resignação que doía, doía. Conheço os varejadores, as azeitoneiras, os almocreves, o semeador, o ceifeiro, a mondadeira, gente de cujo gesto mágico brota o pão. Virgínia Dias FESTA DE LANÇAMENTO 8 de Dez, 16h, Casa do Povo de Peroguarda Entrada livre Participação de Adelino Gomes, Cristina Taquelim, Paulo Lima, Marta Ramos, Ana Cristina Pais, António Cunha, Pierre-Marie Goulet, Teresa Garcia e Luís Ferreira Alves. Projecção de algumas das participações da autora em filmes de Pierre-Marie Goulet Actuação do grupo de cantares Alma Alentejana Lanche de confraternização. **** Virgínia Dias [Peroguarda, 1935] Começou a fazer poemas antes de saber escrever. Inspirava-se nos poetas populares, nos contos da avó, nas peças de teatro que via ao seu colo e que imitava às escondidas no dia seguinte. Inspirou-se sobretudo na injustiça, o grande mote da sua poesia. Na violência da professora da primária, a quem dedicou as primeiras quadras escritas na lousa da escola, na fome e no frio das crianças, no inferno da ceifa e do suão, na humilhação do manajeiro, no salário de miséria, na escola interrompida aos 11 anos para trabalhar no campo, esse campo que é ao mesmo tempo a sua prisão e a sua paixão. Aos 40 anos o marido descobriu-lhe poemas guardados em gavetas. Tinha vergonha de ser poeta sem métrica. Ocasionalmente, participou em concursos nos quais arrebatou prémios e menções honrosas. Pierre-Marie Goulet filmou-a cantando e dizendo poemas seus na triologia iniciada com o filme Polifonias. A sua poesia, essencialmente oral, foi sendo publicada e recolhida, primeiro por Paulo Lima, depois por Marta Ramos. Passados mais 40 anos, está finalmente reunida nesta antologia quase completa, à qual se junta um CD de poemas ditos entre canções e histórias da vida, com vista sobre a planície e "todo o universo que dali se vislumbra".