Leituras no Mosteiro O Cinema de Annie Baker convidado Pedro Carraca A autora adverte-nos logo de início: “Nós, o público de teatro, somos o ecrã de cinema. O raio de luz do projetor irradia por cima das nossas cabeças.” Annie Baker vira o cinema do avesso, numa peça onde nos coloca, não a ver um filme, mas no lugar de onde se vê o filme. Em O Cinema (2013), o teatro é aquilo que acontece depois do filme, a queda vertiginosa na realidade: as luzes, as pipocas despejadas no chão, as personagens que limpam os despojos do dia. A peça trabalha esse momento de transição da “máquina do tempo mágica do cinema” para o tempo presente, para as pessoas que varrem o chão e estão como que a representar para nós. A dramaturga norte-americana assina aqui uma peça sorrateiramente política, sobre classe, sexo, raça, silêncios e sonhos desfeitos. “E a verdade é, um dia vou voltar para visitar o Massachusetts e tu ainda vais estar aqui a varrer pipocas.” ---------------------------------------------------------------------------------------------------- Fora da Caixa 18 set | A Tempestade que Aí Vem, de Forced Entertainment 16 out | O Cinema, de Annie Baker 20 nov | E como não apodreceu…: Branca de Neve e outros textos, de Angélica Liddell 18 dez | Dramaturgia Portuguesa Contemporânea terça 21:00 entrada livre A temporada 2018-19 começa sob os bons e maus auspícios do Mouro de Veneza. Otelo é aquele que fica fora de si ou anda fora dos eixos, da caixa. Ele é o estrangeiro, o diferente, o irado. Otelo “pode zangar-se?”, pergunta o cínico Iago. “Zangado” é um adjetivo que nos ocorre quando lemos E como não apodreceu…: Branca de Neve (2005), de Angélica Liddell, onde a “menina terrível” do teatro espanhol cruza a guerra e a infância para encontrar a beleza no horror, transformando a dor num estímulo vital de sobrevivência. Já a norte-americana Annie Baker vira o cinema do avesso, numa peça onde nos coloca, não a ver um filme, mas no lugar de onde se vê o filme. Em O Cinema (2013), o teatro é aquilo que acontece depois do filme, a queda vertiginosa na realidade: as luzes, as pipocas despejadas no chão, as personagens que limpam os despojos do dia. Mas as Leituras no Mosteiro começam muito antes, com A Tempestade que Aí Vem (2012), da companhia britânica Forced Entertainment, que nos emaranha num território fragmentário e movediço, surpreendente, fora da caixa, avesso a qualquer tipo de normatividade narrativa. Em dezembro, para terminar o ano em modo festivo, o Pai Natal – que é tuga e não lapão – chega-nos com um punhado de peças de dramaturgos contemporâneos portugueses. coordenação Nuno M Cardoso, Paula Braga organização TNSJ Centro de Documentação do TNSJ Mosteiro de São Bento da Vitória Rua de São Bento da Vitória Porto