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Os Índios da Meia-Praia (do arco, da flecha e do desenho)

Os Índios da Meia-Praia (do arco, da flecha e do desenho)

ÁLVARO LAPA | ANTÓNIO PALOLO | ANTÓNIO POPPE E JOANA FERVENÇA | CRISTINA LAMAS | FRANCISCO PINHEIRO | JORGE FEIJÃO | MARIA ARCHER | MUMTAZZ | NICOLAU DA COSTA | PAULO SERRA | PEDRO FALCÃO | PEDRO A.H. PAIXÃO | RUI HORTA PEREIRA | SAMUEL RAMA| TOMÁS CUNHA FERREIRA

Curadoria de ABDUL VARETTI com mediação de NUNO FARIA. 
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"Os deuses adormecidos vão recuperar a atenção do homem livre. A curiosidade e a crença florirão"
"As religiões serão desconsideradas. A experiência mística será reconhecida e um facto comunicável"
”Mar e terra adentro, chegados do passado, virão fantasmas de homens brancos assombrar aqueles que aspiram a viver livres e puros,  regurgitarão óleo queimado e perecerão sufocados pelo próprio refluxo”. 

Somos índios, se isso significa aspirar a estar ligado às vibrações da terra, a respeitar o solo como entidade sagrada e a evocar os antepassados. Compreender porque viemos neste tempo ao mundo. Recusar o progresso como forma de destruição. 

Esta mostra, que toma o nome de empréstimo ao filme de António Cunha Telles e à canção de Zeca Afonso sobre a comunidade piscatória que, vinda de Monte Gordo, se fixou na praia de Lagos nos anos 50, reúne um conjunto de artistas para quem o desenho tem sido instrumental na procura de fundar o eixo que liga a terra e o céu e que institui a vida como experiência profunda e mística. 

O desenho assume frequentemente, no trabalho artístico, a forma da profecia. Mesmo inconscientemente. Convoca forças, gera empatia, provoca visões. Desenha-se, talvez, para esconjurar o mal, para procurar a harmonia dos elementos, o outro dentro de si, para regressar à origem mítica da infância. Para trazer o passado e futuro ao presente.

Há uma energia própria do desenho que desenhar traz à superfície - é uma energia que supera a forma e a nomeação. São dessa natureza muitas das coisas aqui reunidas. Algumas são imediatamente nomeáveis enquanto desenho, outras estão em trânsito para sê-lo e outras já são outra coisa para além do desenho. 

Há, indubitavelmente, uma inquietação no ar, o perfume de uma ameaça. Não sabemos bem o que isso quer dizer, ou o que virá a ser, mas é já palpável. Será o passado que se recusa a morrer ou serão as dores da passagem para uma nova era?
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