De 13 a 16 de Novembro, o teatro do norueguês Jon Fosse (Haugesund, 1959) volta à Sala Estúdio do Teatro da Rainha pela mão de Tiago Moreira, numa reposição de “O Homem da Guitarra”. Este é um monólogo que nos convida a reflectir sobre o lugar do homem no mundo, a solidão a que estamos condenados, o amor à arte enquanto redenção e a busca de sentido num mundo desconcertado.
Nas palavras do encenador e intérprete Tiago Moreira, neste que é um dos seus projectos e desafios de vida, «o personagem habita entre a música, a introspecção e a palavra como surpresa sonora que dá corpo ao pensamento. Dele parece que já sabemos tudo, e essa proximidade apanha-nos de surpresa, de tal forma que nos vemos ligados a ele, ou por outro lado, ligados a nós, uma vez que ele é a imagem da condição humana.»
“O Homem da Guitarra” (1997) transporta para a cena a figura do músico de rua, num monólogo pungente e poético em que os sonhos perdidos de uma vida e os fracassos pessoais acumulados se debatem em busca de desfecho. Para Fernando Mora Ramos, director do Teatro da Rainha, que acolheu o espectáculo proporcionando condições para que pudesse ser realizado, este texto é uma peça «acerca dos inesperados da vida, das dependências, da precariedade e do sentido que um trajecto de vida possa concretizar.»
Publicado no mesmo ano de “O Filho”, que o Teatro da Rainha levou à cena em 2019, “O Homem da Guitarra” explora com simplicidade e de um modo directo algumas das obsessões do seu Autor, desde logo propondo uma releitura singular do “Eclesiastes”, citado mais de uma vez, à luz de uma figura contemporânea em que revemos a mesma experiência castigada pelas desilusões patente nesse livro do Antigo Testamento.
Deslocado no espaço por causa de uma mulher e aí fixado por causa de um filho — «Parece-me que o meu filho começa a sentir vergonha de me ter com o pai.» —, este músico debate-se com o frio do clima e das relações humanas, gelo austero que, provocado pelo abandono e pela solidão, redunda em desesperança e falta de pertença. Num ambiente intimista e melancólico, ele revela-nos o percurso dos fracassados numa sociedade talhada para o sucesso. «Tenho uma espécie de orgulho», diz-nos, numa linha narrativa elíptica em que nos vamos apercebendo das injustiças e do sentimento de desilusão que o inquietam, exactamente as mesmas contradições da vida que o sábio Qohelet, filho de David, já relatava no livro do “Eclesiastes”. «Tudo tem o seu tempo», cita, anunciando porventura uma mudança de rumo, uma inflexão no percurso traçado, uma mudança, uma transformação.
Jon Fosse começou a publicar em 1983, produzindo, desde então, romances, poesia, ensaio, livros para crianças, teatro. É um dos autores contemporâneos mais representados na actualidade e recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 2023, sendo por muitos considerado um “novo Ibsen”. “O Homem da Guitarra” estará em cena entre 13 e 16 de Novembro, na Sala-Estúdio do Teatro da Rainha, sempre às 21h30.