Com quantos rostos se compõe a fachada de uma cidade, quantas gerações foram necessárias para a edificar, que transformações teceram os urbanos quando vieram à procura de muitas e muitas teias onde se perderem ou se encontrarem?
Percorremos as mesmas ruas que os nossos pais percorreram e eles também já tinham percorrido as mesmas que os nossos avós haviam calcorreado, mas embora os mesmos nomes tenham estado há longos anos inscritos nas placas toponímicas as ruas não são as mesmas, estão e virão a ser diferentes. Temos a nostalgia da cidade que era a nossa, aquela arquitectura que imaginamos em criança que seria para sempre a nossa, mas nós mudamos, a nossa fisionomia foi também mudando, as rugas transformaram-se em novas ruas que se acrescentaram à cidade do nosso rosto.
Em tempos, homens e mulheres, transtornados pela dura vida dos campos, vieram para a cidade, talvez iludidos ou não, à procura de uma nova existência, tentando participar na revolução das novas energias e das máquinas ilusionistas, capazes de moldarem muitos aspectos da Natureza que eles haviam abandonado, às necessidades sentidas (ou sublimadas) pelos humanos. Construíam-se em muitas ruas da cidade novas fábricas e bairros onde alojar toda essa mão-de-obra carente necessária para a produção em massa dos produtos que, dali em diante, iriam ser sentidos como necessários.
Mas, da mesma forma que somos surpreendidos quando, ao escavarmos fundo um terreno para nele construirmos os alicerces de um novo arranha-céus, encontramos uma cidade antiga que havia sido escondida pela construção de uma nova, o somos também ao relembrar como os tempos vão mudando a fisionomia da cidade, tanta coisa que era o nosso horizonte urbano e já é outra coisa tão diversa do que era.
E se foram outrora a razão de tanta imigração de humanos para as cidades, as fábricas acabaram por emigrar e partiram das cidades para os arrabaldes, escondendo-se, de certa forma, aos nossos olhares, deixando um ou outro vestígio mais ou menos evidente do que havia sido a sua cidadania na nossa urbe.
Alfredo Ireneu Mota