A violência contra as mulheres no Irão, o ensino de técnicas de interrogatório na School of Americas para formar ditadores da América Latina, a violência colonialista na Índia projetada numa luta de felinos, as noções e políticas de urbanismo simbolizadas num projeto de habitação social na Penha de França. Estes são os vários motes para abordar o tema da violência, numa exposição coletiva a inaugurar no novo espaço da Procur.arte, em Lisboa. De 23 de maio a 13 de julho, em Lisboa. Inauguração às 21h00. Quatro artistas - António Caramelo, George Selley, Miguel Ângelo Santarém e Sima Choubdarzadeh - apresentam na próxima semana um conjunto de trabalhos, que utilizam a fotografia como prática expandida para a reflexão de problemáticas atuais. No âmbito do “Ciclo de fotografia: Para acabar de vez com as imagens”, e com curadoria de Bruno Humberto, (curador já envolvido no projeto Parallel da Procur.arte), esta primeira edição do evento vai refletir sobre a temática da violência. A exposição apresenta trabalhos que abordam várias formas de violência e opressão presentes no mundo, funcionando como base para discutir e analisar o fenômeno que é o exercício do poder e da força sobre indivíduos e povos. A inauguração está marcada para o dia 23 de maio, às 21h00, com uma performance concerto de António Caramelo. Enquanto o trabalho da fotógrafa iraniana Sima Choubdarzadeh refletirá sobre “as regras e tradições provenientes de princípios religiosos e a forma como a desigualdade de direitos entre mulheres e homens no Irão é uma fonte de brutalidade contra a mulher”, o artista Miguel Ângelo Santarém abordará, a partir das Torres do Alto do Eira, a questão da “habitação social, as ideias e as estratégias de controlo e anulação de comunidades através da arquitetura e política urbanística”. Por sua vez, George Selley dará primazia a um trabalho feito a partir de “um manual de técnicas de interrogatório e tortura, usado na School of Americas, nos anos 40 no Panamá” e António Caramelo apresentará um ensaio e performance sobre “outros tipos de crueldade invisíveis a olho nu”, presentes no abuso de poder colonialista. Bruno Humberto inspirou-se na criação do ciclo em causa, que, durante cerca de dois meses, vai estar patente nas instalações da Procur.arte, em Lisboa, na obra “On Violence” (1970), de Hannah Arendt, que analisa a natureza da violência, através da filosofia e política, na segunda metade do século XX, no ensaio “Sair da nossa impotência política” do filósofo francês Geoffroy de Lagasnerie, assim como na pesquisa actual dos fotógrafos e artistas com quem colabora nesta exposição. O objetivo do curador é que a exposição seja um pretexto para abordar, de forma crítica, vários modos de violência com que indivíduos e comunidades, em vários tempos e geografias, são diariamente confrontados. Por essa razão, convidou artistas que, apesar de possuírem “práticas e focos” completamente distintos, se relacionam na forma como questionam “as dinâmicas estruturais” utilizadas por “opressores para manter o seu poder e exercer a sua força”. No dia da inauguração, o artista António Caramelo vai apresentar uma performance concerto que mistura trabalho de manipulação de imagem e som ao vivo, baseada e a partir do filme “Lion Tiger Fight!”, dos anos 30, onde nos deparamos com a documentação da “violência e a brutalidade do colonialismo e da própria natureza humana”. O “Ciclo de fotografia: Para acabar de vez com as imagens” está disponível para visita até ao dia 13 de Julho.