Horário Todos os dias
10h-13h e 14h-18h
As Galerias Municipais inaguram no próximo dia 24 de fevereiro, às 18h, na Galeria da Boavista, a exposição Emancipação do Vivente / Emancipation of the Living, com curadoria de Museum for the Displaced. Esta exposição coletiva resulta de uma colaboração entre as Galerias Municipais de Lisboa e a Galeria Municipal de Almada, ocupando simultaneamente dois espaços, um em cada uma destas cidades vizinhas e profundamente interligadas que, na última década, têm vindo a testemunhar um enorme movimento e mudança, incluindo um processo de rápida gentrificação.
A inauguração conta com duas perfomances, pelo Colectivo Ayllu e por Raquel Lima.
Emancipação do Vivente é a primeira exposição do Museum for the Displaced. As obras apresentadas oferecem diferentes pontos de partida para tópicos complexos relacionados com o deslocamento. Em Lisboa, as obras de Colectivo Ayllu, Raquel Lima, Alfredo Jaar e Frame Colectivo focam-se na Europa enquanto território colonizador, enquanto, em Almada, as obras de Frame Colectivo, Dima Mabsout, ETC e Filipa César refletem sobre questões relacionadas com o território, a expropriação e os direitos à habitação.
A exposição sublinha a importância da coletividade, das práticas colaborativas e da autonomia como a única forma de alcançar futuros sustentáveis. Nas palavras de Ana Sophie Salazar, uma das impulsionadoras do Museum for the Displaced, este “tem como objetivo desenvolver um arquivo vivo que permita a emergência de novos tipos de relações, não só entre nós, mas também com aquilo que imaginamos ser possível.”
O Museum for the Displaced interpreta o termo displacement (deslocamento) de um modo expansivo, como algo que pode acontecer tanto a seres humanos como não-humanos. O deslocamento pode ser um estado físico, mental e/ou emocional. Encontra-se frequentemente ligado a experiências traumatizantes, como a migração forçada, cuja desconstrução e superação requerem tempo. Ocorre através de múltiplas formas de violência, tanto física como económica; a filhes de imigrantes; ou a quem simplesmente vive num espaço entre diferentes culturas, línguas e costumes. Deslocamento é ser-se despejade pela incapacidade de pagar as elevadas rendas das cidades, ou porque certas empresas imobiliárias cobiçam o terreno no qual construímos a nossa casa. Deslocamento é perder a ligação com a terra debaixo dos nossos pés. Deslocamento é ser-se desenraizade e não voltar a encontrar uma casa. Deslocamento é ter de inventar uma nova casa a partir de fragmentos.
O programa paralelo da exposição inclui 3 workshops e uma mesa-redonda:
Galeria da Boavista:
25.03 – Workshop de Pedagogias Experimentais: White Blindspot orientado por Frame Colectivo e Maribel Mendes Sobreira
6.05 – Workshop de Pedagogias Experimentais: Rebel Islands – Zapatista Autonomy (parte 1/2) orientado por Lorena Tabares Salamanca
Galeria Municipal de Almada:
15.03 – Mesa-redonda aberta: Direito à Habitação
20.05 – Workshop de Pedagogias Experimentais: Rebel Islands – Zapatista Autonomy (parte 2/2) orientado por Lorena Tabares Salamanca
Biografias:
Alfredo Jaar é um artista, arquiteto e realizador que vive e trabalha em Nova Iorque. A sua obra tem sido amplamente exibido em todo o mundo. Participou nas Bienais de Veneza (1986, 2007, 2009, 2013) e São Paulo (1987, 1989, 2010, 2021), bem como na Documenta, Kassel (1987, 2002). Entre as suas exposições individuais destacam-se: The New Museum of Contemporary Art, Nova Iorque (1992); Whitechapel, Londres (1992); Moderna Museet, Estocolmo (1994); The Museum of Contemporary Art, Chicago (1995); e Museo d’Arte Contemporanea di Roma (2005). Recentemente, foram apresentadas grandes exposições retrospetivas sobre a sua obra em: Musée des Beaux-Arts, Lausanne (2007); Hangar Bicocca, Milão (2008); Alte Nationalgalerie, Berlinische Galerie e neue Gesellschaft für bildende Kunst e.V., Berlim (2012); Les Rencontres d’Arles (2013); KIASMA, Helsínquia (2014); Yorkshire Sculpture Park, Reino Unido (2017); e Sesc Pompeia, São Paulo (2021).
O Colectivo Ayllu é um grupo latino-americano dedicado à investigação e ação colaborativa. Os membros deste coletivo sediado em Madrid e Barcelona identificam-se como migrantes transgressivos, racializados e dissidentes sexuais e de género provenientes de antigas colónias espanholas. Através de uma prática que envolve ativismo político e linguagem, o grupo reavalia as estruturas socioeconómicas, resistindo à heteronormatividade e aos sistemas coloniais-patriarcais ao mesmo tempo que promove modos de pensar e de ser indígenas, de acordo com os quais o ser humano é parte de uma natureza que requer todo o nosso cuidado e respeito. O grupo é composto por Alex Aguirre Sánchez (Quito, Equador), Leticia/Kimy Rojas (Guayaquil, Equador), Francisco Godoy Vega (Santiago, Chile), Lucrecia Masson (Ombucta, Argentina) e Yos Piña Narváez (Caracas, Venezuela).
Dima Mabsout é uma artista cuja prática criativa atravessa os campos educativo, social e político. Mabsout interessa-se pelo modo como as artes podem servir de ponte entre experiências, disciplinas e diferentes estruturas sociais. Em 2014, criou a Naked Wagon, uma plataforma móvel que permite ter arte e partilha nas ruas e que tem contribuído para simpósios, palestras e colaborações com artistas e organizações no Líbano, Londres e Escócia. Pouco depois, Mabsout começou a trabalhar com a Catalytic Action na qualidade de diretora de programas de arte e educação, desenvolvendo métodos de participação em grupo que exploram as relações entre a arte e os ambientes construídos. Atualmente, trabalha numa escola na floresta, no Líbano, explorando ativamente a criação artística coletiva, o teatro e a performance de rua. É licenciada em Belas-Artes pela Escola Central Saint Martins, em Londres, e mestre em Arte no Ensino pela Harvard Graduate School of Education.
ETC, fundado em 2010 por Simon Deprez e Eléonore Labattut, é um ateliê multidisciplinar que investiga e desenvolve projetos em territórios em crise. A dupla trabalha em colaboração com uma rede interdisciplinar de especialistas e investigadores de diferentes áreas (incluindo arquitetura, urbanismo, geografia, sociologia e antropologia). Com o objetivo de apoiar a inclusão, propriedade e a cidadania, concebem e implementam processos participativos para usar nas fases de análise, design, implementação ou avaliação de projetos de desenvolvimento. A dupla reside em Lisboa desde 2014.
Filipa César é uma artista e realizadora portuguesa cujo trabalho se relaciona com os aspetos ficcionais do cinema documental e as fronteiras fluidas entre o cinema e a sua receção. Interessa-se particularmente pelo cinema militante e pela dimensão política da imagem em movimento e tecnologias envolvidas. Através de diversos workshops e seminários, teve a oportunidade de trabalhar com estudantes de universidades europeias e norte-americanas, incluindo da Universidade de Harvard. Foi cofundadora da Mediateca Onshore, um projeto de arquivo e lugar de aprendizagem com os antepassados, a natureza e as pessoas da Guiné-Bissau. Filipa César foi convidada a lecionar Cinema e Vídeo na Merz Akademie, juntamente com Diana McCarty. O trabalho artístico da dupla foca-se particularmente em projetos interdisciplinares com uma abordagem feminista e crítica.
Frame Colectivo é um ateliê de arquitetura de Lisboa fundado em 2012 por Gabriela Salhe e Agapi Dimitriadou. A sua investigação e prática urbanas incluem instalações, ativações, design de exposições, cenografia, obras multimédia e publicações, aliando a experimentação inventiva à teoria do espaço. O coletivo foca-se em espaços públicos e semipúblicos, assumindo uma posição crítica relativamente ao ambiente construído. Os seus projetos contextualizados, formalmente disruptivos e participativos, desenvolvendo ferramentas colaborativas para os processos de construção de lugar e tomada de decisões. A sua editora Urban Editions, publica livros e jogos que resultam da sua obra, reunindo pessoas em torno de questões sociais e ambientais no âmbito da arquitetura e do urbanismo. Em 2019 publicou o livro [TASCAS], no qual trinta autores prestam homenagem a este popular tipo de restaurante português.
Raquel Lima é poeta, performer, arte-educadora, licenciada em Estudos Artísticos com especialização em Artes Performativas na FLUL (2008), e doutoranda em Estudos Pós-Coloniais com a sua investigação centrada em orature, escravatura e movimentos afrodiaspóricos, no CES-FEUC. Co-fundou a associação cultural Pantalassa e foi Directora Artística e Coordenadora Geral das três primeiras edições do PortugalSLAM – Festival Internacional de Poesia e Performance. Publicou, em Outubro de 2019, o seu primeiro livro e audiolivro de poemas intitulado Ingenuidade Inocência Ignorância, pelas editoras BOCA e Animal Sentimental, ano em que cocoordenou a 7ª Conferência Bianual da Rede Afroeuropeans «In/visibilidades negras contestadas». Tem apresentado o seu trabalho poético em vários países da Europa, América do Sul e África em eventos de literatura e performance, incluindo o workshop «Poesia, Raça e Género: Para uma escrita poética interseccional». Em 2022, foi convidada para a Bienal de Veneza como palestrante no evento Loophole of Retreat, convidada como keynote speaker para a sessão de abertura do Congresso Mundo de Mulheres em Maputo, Moçambique, e convidada para o evento Literature Talk: Poets from Black Europe na BOZAR em Bruxelas, Bélgica. Integra a UNA – União Negra das Artes
Lorena Tabares Salamanca é uma curadora e investigadora independente nas áreas da arte contemporânea, os arquivos e a performance. Frequenta o mestrado em Ciências da Comunicação – Comunicação e Artes na Universidade Nova de Lisboa e é fundadora da associação cultural Circuloscópio. Nos últimos anos, tem vindo a focar-se nas interseções entre ficções, arte performativa e a sua documentação. Foi coeditora de Cuerpo Pólvora, a 15ª edição da revista Terremoto. Conduziu a investigação e implementação do programa educativo «Mesas de diálogo: Performance en revisión 1990-2019. Memoria y archivo desde el arte acción, la performance y la documentación en México», coordenado pela Local 21 arte. Em 2018, trabalhou na conceptualização do arquivo de Antonio Juárez Caudillo, preservado no Centro de Documentação Arkheia, no Museo Universitario Arte Contemporáneo – MUAC. Em 2017, foi parte da equipa do Ex Teresa Arte Actual para a «estabilização, descrição e digitalização de documentos audiovisuais e fotográficos em formatos analógicos do Ex Teresa Fund (1993-2000)». Salamanca reside em Lisboa.
Maribel Mendes Sobreira é arquiteta, curadora e investigadora. Mestre em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, frequenta atualmente o doutoramento em Filosofia (especialização em Estética e Filosofia da Arte) na mesma universidade e foi bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) entre 2016 e 2020. Maribel Sobreira é membro do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa (CFUL) e da ISPA (International Society for the Philosophy of Architecture). Em colaboração com o Museu Coleção Berardo e o MAAT, é responsável pelo desenvolvimento e orientação de atividades destinadas a promover a arte e a arquitetura. Iniciou a sua prática de curadoria em 2019 com o projeto ARQUIVO EXQUIS, em Lisboa, e cofundou o ColectivoFACA, um projeto de curadoria e cidadania ativa que questiona as várias narrativas da cultura visual, delineando interseções entre as mesmas sem nunca eliminar a história.
O Museum for the Displaced (Mf D), fundado em 2019, colabora com artistas e investigadores deslocados ou que trabalham o tema do deslocamento, através de encomendas, exposições, eventos e publicações. O Mf D tem como missão criar espaço para a multiplicidade destas histórias, contextualizando as narrativas e tecendo um cenário mais amplo. Através deste arquivo vivo, o Mf D tem como objetivo sensibilizar e iniciar debates sobre o deslocamento no máximo de lugares possível, unindo-se a movimentos maiores e lutas por mais igualdade, liberdade e justiça social e ambiental. O projeto é mantido por Mohammad Golabi (Irão/EUA), Leong Min Yu Samantha (Singapura) e Ana Sophie Salazar (Equador/Portugal).
Fonte: https://galeriasmunicipais.pt/exposicoes/emancipacao-do-vivente/