19:00 até às 18:00
JOÃO ONOFRE | JULIÃO SARMENTO | A Visão Incorporada- performance para a câmara

JOÃO ONOFRE | JULIÃO SARMENTO | A Visão Incorporada- performance para a câmara

A VISÃO INCORPORADA - Performance para a câmara 
Exposição Coletiva Internacional de Vídeo 

05.03.2014 – 04.05.2014 
Curadores: Ana Rito e Jacinto Lageira 
Curador Associado: Hugo Barata

ARTISTAS: Ana Pérez-Quiroga, Ana Rito, Anthony Ramos , Bruce Nauman,  Bruno Pacheco, Carolee Schneeman, Gary Hill, Jemima Stehli, João Onofre, João Tabarra, Joan Jonas, Johanna Billing, Julião Sarmento, Marina Abramovic, Merce Cunningham, Mónica De Miranda, Nuno Sousa Vieira, Vasco Araújo, Vera Mantero e Vito Acconci


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1 1- 1 6 M A R Ç O   “C O R P U S  D E L I C T I”  
Julião Sarmento 
Parasite, 2003, vídeo, p/b, som, 13’ 51’’ 
Cortesia Cristina Guerra Contemporary Art e Galeria Pedro Oliveira

Carolee Schneemann 
Up to and Including her limits, 1976, video, cor, som, 29’ 
Cortesia de Electronic Arts Intermix 	

Jemima Stehli 
Photo Performance nº 30, with Larry Bell sculpture and artist Lewis Amar, 2005, vídeo, cor, som, 41´ 
Cortesia Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Museu Colecção Berardo 

Marina Abramovic 
Dragon Head 6, 1989, DVD, NTSC, cor, sem som, 29' 57'', 2/5,  
Cortesia Colecção Sarmento e da artista 




1 8 - 2 3 M A R Ç O  “L E S S N E S S”
João Onofre 
Untitled, 1999, vídeo (SDV), cor, som, 3’’ 
Cortesia MACE - Colecção António Cachola 

João Onofre 
Untitled (We will never be boring), 1997, vídeo(SDV), cor, s/som, 60’ 
Cortesia MACE - Coleção António Cachola

Bruce Nauman 
Slow Angle Walk, 1968, video, p/b, som, 60’ 
Cortesia de Electronic Arts Intermix 

Ana Pérez-Quiroga 
Inventário - Diário #1 Phales, 2009, vídeo, cor, som, 3' 
Cortesia Museu Nacional de Arte Contemporânea





1 - 6 A B R I L  “P L A Y G R O U N D”
João Tabarra
O encantador de serpentes, 2007,vídeo (HD), cor, s/som, 5’ 10’’, loop 
Cortesia Coleção António Cachola e do artista, em depósito no MNAC-MC 

João Tabarra 
Pose/Maquillage/Pose 2, 2004, vídeo, cor, s/som, 8’ 55’’, loop 
Cortesia do artista 

João Onofre 
Untitled (Masked tap dancer), 2005, vídeo (SDV), cor, som, 11’ 53’’ 
Cortesia Coleção António Cachola, em depósito no MNAC-MC

Bruno Pacheco 
Self-portrait smoking a cigar without the aid of the hands, 2002, video, cor, s/som, 15’40’’ 
Cortesia Coleção António Cachola, em depósito no MNAC-MC

Mónica de Miranda
Biting nations, 2006, vídeo (HD), cor, som, 23’ 25’’ 
Cortesia Museu Nacional de Arte Contemporânea 






2 9 A B R I L - 4 M A I O  “C L O S E - UP"
Julião Sarmento 
Faces, 1976, filme 8mm transferido para vídeo (DVD), cor, s/som, 44' 22'' 
Cortesia Cristina Guerra Contemporary Art e Galeria Pedro Oliveira




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"O ato de documentar um evento como uma performance é o que o constitui como tal", (1) Philip AUSLANDER

O corpo é redesenhado constante e profundamente, através das imagens que a partir dele são criadas e que de alguma forma, devolvem o reflexo, transformando-o a cada olhar. Este corpo atravessa conceitos, experiencia a teatralidade, a encenação, a coreografia, o gesto, o movimento e coloca-se em rota de colisão com qualquer tentativa de codificação mais clássica. O corpo-videográfico ou cinemático estabelece uma teia de relações que se prendem ainda com uma noção de espelho (2) , onde conceitos como a identidade, o duplo ou a máscara são trabalhados segundo uma lógica de (des)construção. Fazendo da imagem matéria primordial de reflexão, é concebido um projeto expositivo que pretende estabelecer a sua génese operativa a partir de um enunciado que reflita sobre a presença e a ausência do corpo, observando os momentos de transição, de contacto, de suspensão, de cruzamento e de hesitação. Em A Visão Incorporada, é a imagem videográfica que, registando o corpo, edifica o conceito de “performance para a câmara”, não pressupondo que as ações sejam experienciadas ao vivo por um público, logo permitindo um desfasamento conceptual que auxilia a definição de um campo esquivo e entre mundos: os gestos são agora “arquivos” do corpo em trânsito. A figura, agora tornada, o corpo da imagem (podemos talvez considerar dois corpos unidos, o corpo enquanto figura, e o corpo próprio do vídeo ou do filme enquanto representação, “objeto”), estabelece a transmutação e a instabilidade da própria condição do medium das imagens em movimento – filme ou vídeo.

Douglas Rosenberg em Screendance: Inscribing the Ephemeral Image reflete em torno das relações entre a prática da dança, da performance e as novas tecnologias de representação desde o advento do cinema, apresentando uma espécie de mapa de navegação, questionando os limites de uma forma de arte iminentemente colaborativa. A efemeridade do movimento do corpo e a imagem que daí ocorre aponta 
para uma abordagem interdisciplinar que permite uma discussão mais ampla das questões de hibridez e mediação. A genealogia da coreografia para a câmara, que difere, na sua natureza e parâmetros definidores, do registo audiovisual ou fotográfico de um exercício ou espetáculo de dança, coloca um conjunto de questões que importa enformar. O que sucede aos corpos coreografados, agora virtuais, no processo de re-mediação(3) que esta transferência, este “corpo tornado imagem” desenha? Podemos ainda falar de fisicidade associada à tecnologia no decurso desta passagem? Do mesmo modo Susan Leigh Foster, em Choreographing Empathy coloca a tónica no espetador, cujo corpo físico dialoga com o corpo virtual da imagem, propondo a existência de uma conexão sensorial, iminentemente cinestésica e empática. É no estudo e análise das estruturas inerentes ao filme e ao vídeo, nas suas dimensões percetivas e cognitivas, que se intui uma noção de espacialidade transformadora da postura do espetador relativamente ao espaço físico e arquitetural. 

Deve debater-se, pois, a correlação de linguagens diferentes, onde as artes visuais, as artes de palco, e a herança do cinema e do filme, confluem para a nossa proposta que visa, segundo os enunciados anteriores, propor a vídeo-instalação como terreno fértil da conclusão do corpo-projetado. Discorremos assim sobre a construção do corpo movente, e do ecrã como palco ou lugar. 

A VISÃO INCORPORADA é um projeto expositivo que pretende colocar em cena um conjunto de peças videográficas que exploram noções de performance para a câmara, afastando-se de uma visão ontológica ou historicista, mas antes, aproximando obras e artistas (nacionais e estrangeiros) segundo núcleos relacionais (conectáveis e permeáveis) que alteram a cada nova semana. Em Espelhos/Visões propõe-se uma reflexão em torno da mecânica especular do vídeo, das suas questões formais, técnicas e da condição psicológica que lhe é inerente, enquanto espelho, enquanto motor de enamoramento; em Pas de deux é a coreografia para a câmara a questão central das obras apresentadas, quer na perspetiva da vídeo-dança, quer na criação de um corpo-coletivo; em Corpus Delicti são exploradas noções de voyeurismo ao mesmo tempo que de (des)construção do corpo e dos seus gestos; Lessness reúne “exercícios” de repetição, circularidade e (im)possibilidade, de um corpo em queda, de um corpo movente mas preso a uma ação sem desfecho, confinado entre paredes, atraído pelo “chão beckettiano”; Monólogos (Processos) considera o lugar do sujeito/fazedor na sua afinidade com o objeto (em trânsito), num jogo intermitente entre presenças e ausências, corpo e imagem; Playground refere-se a todo um horizonte (múltiplo) de acontecimentos onde é convocado quer o universo cinematográfico (e as suas personagens), na sua condição narrativa ou ficcional, quer a sociedade numa perspetiva mais dilatada; Imagem-Texto aproxima peças videográficas que manifestam uma relação mais ou menos expressa com a palavra, procurando a performatividade do texto na construção da imagem; Le Grain de la voix, concretiza aquilo que Barthes descreve como o corpo na voz que canta, na mão que escreve, no membro que executa, uma corporalidade/materialidade primeira que parece existir simultaneamente como ponto de partida e como ponto de chegada; Close-up investiga um certo afastamento daquele que olha mas, também, uma aproximação à pele e ao toque. O extremo plano-aproximado evoca uma “objetificação” fragmentada do corpo e da sua superfície. 

Estão ainda previstas conversas em torno desta temática com convidados e datas a anunciar assim como o lançamento do Catálogo da Exposição. 

Ana Rito & Jacinto Lageira, Lisboa e Paris, Janeiro 2014





(1)
 «The act of documenting an event as a performance is what constitutes it as such», AUSLANDER, Philip, CLAUSEN, Barbara, KRICK, Nina (Ed.), After the Act/ The (Re)Presentation of Performance Art, MUMOK Theory 03: Verlag Moderner Kunst, 2006. 

(2)
Veja-se o vídeo, as suas questões formais, técnicas e a condição psicológica que lhe é inerente, enquanto espelho, enquanto motor de “enamoramento”, convocando o ensaio de 1976, Vídeo:A Estética do Narcisismo, de Rosalind Krauss, na observação e análise das performances realizadas para a câmara de 
Vito Acconci, Richard Serra, Nancy Holt, Lynda Benglis, Peter Campus ou Joan Jonas. Indagamos tanto a figura de Narciso, como a de Eco, condenado à repetição e à ressonância do mundo e das coisas. Aliás a repetição, a reposição, do gesto ou da ação efetiva o presente, o “aqui e agora” dessas performances, condensando, e assumindo (aparentemente o paradoxo), no campo da representação, a espessura da carne, o peso do corpo tornado imagem. Do mesmo modo Amelia Jones, em SELF/IMAGE, Technology, Representation and the Contemporary subject, disseca os processos representacionais do corpo/sujeito, questionando o conceito de imagem e o “efeito ecrã” deste espelho tecnológico. 

(3)
 BOLTER, Jay David, GRUSIN, Richard, Remediation: Understanding New Media. Cambridge, Mass.: MIT Press, 2000. Sobre o assunto ver também Yvonne 

Spielmann: Video, The Reflexive Medium.
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