No ano em que se assinala os 40 anos (do 25 de Abril de 1974) da queda da ditadura do Estado Novo e da instauração da Liberdade em Portugal, o município de Câmara de Lobos associa-se a esta efeméride, promovendo uma exposição que recupera a memória de um dos episódios mais significativos da luta contra o antigo regime: o assalto ao navio Santa Maria. Sob a denominação de "Santa Liberdade, 1961: a Dulcineia que abalou as ditaduras ibéricas", a exposição, que abre ao público precisamente no dia em que, há 52 anos, o capitão Henrique Galvão comandou o assalto ao navio Santa Maria, traz, pela primeira vez, ao conhecimento do público madeirense e turistas, dezenas de exemplares da imprensa nacional e internacional, designadamente das grandes revistas mundiais, tais como Life, Time e Paris Mach, que documentaram toda aquela odisseia que impressionou a opinião pública mundial durante duas semanas, a partir das múltiplas manchetes que o caso suscitou, até à entrega do navio a 3 de fevereiro de 1961, no norte do Brasil. O paquete de luxo Santa Maria, que várias vezes ancorou no Funchal, transportava cerca de mil pessoas depois de deixar Caracas, na Venezuela, quando foi tomado por 25 rebeldes comandados por Henrique Galvão, na madrugada de 22 de janeiro de 1961. Este dissidente de Salazar encontrava-se exilado na Venezuela, após uma singular fuga do Hospital de Santa Maria, em 1959, onde se encontrava detido à guarda da PIDE (polícia política do regime ditatorial). Depois de ter sido tomado por Galvão, o navio passou a autodenominar-se "Santa Liberdade", ostentando tal denominação, em diferentes partes do convés. Além disso, o paquete conseguiu fintar a marinha e a aviação americanas, tendo navegado incógnito, durante milhas, em pleno oceano Atlântico, com rota orientada para África. A ação denominava-se "Dulcineia" e fora desencadeada pela DIRL (Direção Ibérica Revolucionária de Libertação), organização que integrava exilados portugueses e espanhóis, associada ao movimento de Humberto Delgado. A par da Revolta da Madeira, ocorrida em abril de 1931, que constituiu o primeiro ato de revolta contra a ditadura militar, o desvio do paquete Santa Maria é considerado um dos mais duros golpes aplicados ao regime que vigorava em Portugal desde 1926, especialmente devido ao impacto que teve na opinião pública internacional. Este episódio da história contemporânea de Portugal, que teve uma grande cobertura jornalística, mobilizou meios nunca utilizados até aquela altura, como foi o uso de para-quedas por jornalistas do Paris-Match, internacionalizando a luta dos opositores à ditadura de Salazar. Esta exposição enquadra-se no âmbito do protocolo de cooperação firmado entre o Museu Nacional de Imprensa e a Câmara Municipal de Câmara de Lobos, com vista à realização de exposições periódicas no Museu de Imprensa da Madeira, e conta com o apoio do hotel Quinta do Estreito, Restaurante Vila do Peixe, ANAM e DRAC.