Cineclube Mundo apresenta: CICLO DE CINEMA (ABRIL): "Shôhei Imamura - Ou o Rebelde Japonês" Shôhei Imamura - "The Insect Woman" (1963) "The Insect Woman", o título anglicizado do filme de Shohei Imamura "Nippon Konchuki", não é de nenhum modo uma tradução directa e, na realidade, soa como uma produção de série B, de Roger Corman. O título original traduzido directamente soaria a algo como "Entomological Chronicles of Japan", que mais proximamente reflectiria a viagem de uma personagem lutando pela vida, como uma metáfora para a história do século XX, no Japão. Tal como o seu mentor, o grande Yasujiro Ozu, Imamura estava profundamente preocupado com a natureza do que significava ser japonês, embora ele andasse a explorar a questão de uma perspectiva muito diferente, substituindo o formalismo rígido de Ozu, focado numa deteriorização da classe média, por um estilo visual mais eclético e um fascínio pelo lado sombrio da sociedade japonesa. No filme anterior, "Pigs and Battleships" (1961), Imamura tinha mostrado um enorme fascínio e um profundo respeito por mulheres fortes, resistentes, capazes de garantir a sua própria identidade e um lugar numa sociedade que constantemente quer reduzi-las a esposas obedientes, mães e funcionárias. Em "The Insect Woman", ele leva este fascínio a uma posição extremista, com a personagem de Tomé Matsuki (Sachiko Hidari), que nasce como uma filha bastarda de uma pequena vila agrícola em 1918 e que posteriormente luta contra inúmeros obstáculos durante as tumultuadas décadas seguintes até ao tempo presente. O filme é marcado por importantes marcos históricos, incluindo a rendição do Japão em 1945 e o programa de televisão em 1959, do casamento real do príncipe herdeiro Akihito e Shoda Michiko. No início tudo parece estar contra ela, começando pelo seu estatuto que é desvalorizado ainda mais pela sua descendência e pela reputação da mãe (não se sabe quem o pai de Tomé porque a mãe dormiu com todos os homens da aldeia) e do abuso sexual que vai sofrendo lentamente pela personagem do padrasto Chuji (Kazuo Kitamura). Já adulta, Tomé tenta integrar-se na sociedade japonesa mas um casamento fracassado e o facto de ter um filho fora desta união mantém-na constantemente à margem da sociedade. Ela encontra consolo numa igreja, onde pode derramar a sua dor e rezar. Finalmente encontra trabalho como empregada doméstica numa pousada que funciona como um bordel. Embora tenha um choque com a natureza do seu trabalho, finalmente consegue aceitá-lo e até mesmo abraçá-lo, manipulando todos à sua volta e subindo até ao topo e conseguindo substituir a Madam (Tanie Kitabayashi). Ao longo do filme Tomé prova ser infinitamente adaptável e observá-la é como assistir a diferentes personagens, a sua maleabilidade por vezes faz diferentes encarnações difíceis de conciliar, excepto através da sua necessidade de sobrevivência. Imamura sempre foi interessado em atingir novas fronteiras, descrevendo os cantos mais obscuros da sociedade japonesa e esse é o caso de "The Insect Woman". A sua visão em última instância, é uma estranha mistura de compaixão e distância, acompanhadas de um trabalho de câmera inquieto e transições que muitas vezes isolam um momento de grande turbulência emocional. É um processo lento, por vezes um pouco confuso, porque Imamura e o seu argumentista Keiji Hasebe (com quem ele trabalhou em dois outros filmes) tendem a saltar para trás e para a frente no tempo, mas é um intrigante, embora grosseiro, retrato da luta das mulheres no Japão moderno. LEGENDADO EM PORTUGUÊS 150 min.