Súplica (homenagem a Noémia de Sousa), 2018 De: Ângela Ferreira, com Leituras de Soraia Tavares Uma visita recente ao bairro da Mafalala em Maputo levou-me ao portão da casa onde viveu Noémia de Sousa (Maputo 1926) e desencadeou em mim um desejo de homenagear esta grande poetisa que ainda hoje é reconhecida como a mãe da poesia Moçambicana. Noémia de Sousa nasceu em Maputo a 20 de Setembro de 1926. Foi escritora, militante contra o regime colonial e jornalista. Foi uma das almas políticas e culturais do famoso Bairro da Mafalala. Amava a música de Billie Holliday e a canção ‘Let my people go’ de Paul Robeson. Apesar de profundamente afetada pelo sofrimento dos seus compatriotas Moçambicanos a sua poesia revela sempre a esperança da sua libertação. O seu único livro de poemas Sangue Negro foi publicado pela primeira vez em 2001 pela Associação de Escritores Moçambicanos. Morreu em Cascais a 4 de Dezembro de 2004. A estrutura de metal minimalista construída para servir de palco à leitura dos seus poemas aprisiona o pedestal da estátua de D. Carlos, fazendo com que possamos experimentar uma extensão do pedestal escultórico e permitindo que a voz e as palavras desta mulher Moçambicana - Noémia de Sousa - sejam ditas da mesma altura que a própria estátua, contrariando assim a presença da figura do símbolo do poder colonial. Um Bailout de Memorias De: Márcio Carvalho / Audio: Cortesia de Elsa Peralta e exposição Retornar O espaço público é um arquivo público. Um arquivo que vive no presente, que foi ditado para que todos nós possamos experienciar, formar e avaliar o passado. Em Lisboa e Berlim estatuas, monumentos, nomes de ruas, palácios, jardins tropicais, etc, ostentam um passado cristalizado e dão-nos orientações presentes de como navegar na história hegemónica de seus impérios e como acreditar e perpetuar suas doutrinas. Se olharmos para estatuas como as de Otto Von Bismarck e Rei D. Carlos I entendemos que a contextualização das mesmas é vaga e enaltece suas perspectivas de conquista de outros territórios e de seus feitos gloriosos, imperialistas. Diz-se que faz parte da história. Uma história mal contada, onde o Victor observa todos nós de cima - nós que vivemos nestas cidades, nós que as formamos, nós (ou grande parte de nós) que aparentamos ser invisíveis face ás grandiosas narrativas. Mas nós também nos recordamos. Ao que parece a memória não é apenas uma actividade cerebral, nem tão pouco é um repositório fixo de informação. A memória como arquivo é uma metáfora, e como todas as metáforas, apesar de formarem a realidade não deixam de ser uma relação de semelhança, uma comparação abreviada, uma analogia. Este novo trabalho usa memórias autobiográficas de pessoas reais para recontextualizar a estatua de D. Carlos I e sua ideologia do ultramar, usa a elasticidade particular do que chamamos “memória” para reconsolidar as grandiosas memórias imperiais e debater suas consequências no presente. Demythologize That History and Put It to Rest desafia o recordar formado por estátuas, monumentos, nomes de ruas e outros memoriais coloniais eurocêntricos nos espaços públicos de Lisboa e Berlim. Na falta de uma contextualização presente, estes sitios e objectos continuam a oprimir perspectivas e histórias de comunidades africanas e seus sistemas epistemológicos, comemorando assim uma história eurocêntrica romantizada. O projecto está envolvido na criação de intervenções artísticas para serem apresentadas em espaços públicos de Lisboa e Berlim. O objectivo: desmitologizar as narrativas em torno desses monumentos e sua influência sobre os vários aspectos da lembrança e do esquecimento público, e para contrapor-se aos modos como eles vêm moldando o nosso pensamento, experiência e imaginação atuais. Inspirado na afirmação de Edouard Glissant de que a história e sua formação não devem ser deixadas apenas para os historiadores, o artista Marcio Carvalho convidou artistas de Angola, Camarões, Gabão, Iraque, Moçambique e Portugal para apresentar performances ao vivo e discussões públicas para contra-monumentalizar esses objectos cristalizados, para desmitologizar suas narrativas hegemónicas, ocidentais e para encontrar e projectar outras memórias e outras narrativas. Os 9 artistas vão trabalhar com monumentos de duas personalidades históricas que exerceram enormes influências na colonização da África pelas potências européias durante a chamada Conferência do Congo (1884/85) em Berlim: Otto von Bismarck (Tiergarten, Berlim) e Rei D. Carlos I (Palácio da Ajuda, Lisboa).