Mundo Fantasma
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Matéria Escura A expressão “matéria escura” nasce de um dos modelos vigentes da física para dar conta da matéria no universo, a sua massa, movimento, e expansão. Trata-se, portanto, acima de tudo, de um termo que ocupa a função daquilo que é ainda desconhecido ou das possibilidades efectivas de descrição, explicação e previsão. No fundo, mesmo que seja diferente da desusada teoria do éter, por estar agora ancorada em efeitos observáveis e mensuráveis, a matéria negra está ainda a ocupar um espaço de ignorância que se pretende ir apagando à medida que se fazem novas descobertas. H. P. Lovecraft tem aquela famosa frase de que “Vivemos numa ilha tranquila de ignorância no seio de mares negros de infinitude, e não está escrito que devamos viajar distantemente”, mas a atitude do escritor de weird fiction não era propriamente a da mente de um cientista, cujos passos são planeados e com o cuidado metódico que dita, logo à partida, a fortuna garantida. Garantida, pois um falhanço numa observação ou teoria é, em si mesmo, uma vitória também. «Matéria escura», enquanto título de uma mostra da produção mais recente de Filipe Abranches, entre páginas de banda desenhada, alguma da qual inédita, e de ilustração editorial, menos ou mais próxima de colaborações textuais ou de companheirismos jornalísticos, dá também conta da própria exploração do artista. Em primeiro lugar, de todos os aspectos representativos, temáticos ou narrativos do que lança no papel, onde se conseguem vislumbrar pequenos fantasmas recorrentes a aliar trabalhos bem distintos (ecos de influências primárias revisitadas, o isolamento da figura, a teatralidade da iluminação noir, a violência indizível e mortífera sob o fino verniz social). Depois, a lavra da própria tinta na superfície, em que a destreza magistral do pincel e daquela particular matéria escura se mascara numa aparente facilidade do desenho. Finalmente, a talvez menos visível mas contínua, em toda a sua obra, criação de séries e uniões estilísticas. É papel do visitante, então, ser o viajante-cientista deslocando-se cada vez mais longe na noite de Abranches, aproximando-se da matéria que mancha o papel para chegar à matéria que dele se desprende e adensa e agrega o seu universo. Pedro Moura Filipe Abranches [n.1965, Lisboa] Licenciado em Realização pelo curso de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC). Professor no departamento de Ilustração/Banda Desenhada do Ar.Co. Foi docente da ESAP/Guimarães (Escola Superior Artística do Porto – Pólo de Guimarães) entre 2006 e 2008, tendo aí sido o coordenador do primeiro Mestrado em Ilustração do país. Iniciou a actividade em bd na revista LX Comics no início dos anos 90. É ilustrador do semanário Expresso e publicou ilustrações em diversos jornais: Público, Le Monde (França), O Independente e jornal I. Destacam-se os seguintes álbuns de banda desenhada publicados: História de Lisboa, O Diário de K. e Solo. Na área dos filmes de animação ganhou o prémio Restart de melhor realização de curta-metragem portuguesa no Festival IndieLisboa 2009, com os “Pássaros”. Realizou outra curta-metragem de animação “Sanguetinta”, que estreou no Curtas de Vila do Conde. Foi-lhe atribuído em 2011 o terceiro apoio do ICA, uma animação de 15 minutos "Chatear-me-ia morrer tão joveeeeem..." Este filme teve a sua estreia internacional no IndieLisboa 2016, tendo obtido diversos prémios no estrangeiro (Sommets du cinéma d'animation/ Festival international de Montréal - 2016: Grand Prix de la compétition internationale) e em Portugal (Caminhos do Cinema Português 2016: Grande Prémio da Selecção Oficial), (Monstra 2017: Melhor curta portuguesa).
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