É Coisa de Preto [Todo] Dia da Consciência Negra As encruzilhadas epistemológicas, artísticas e religiosas construídas historicamente pelas populações negras no Brasil, a despeito de seu importante papel fundacional na formação do país, ainda não são plenamente refletidas e encaradas em sua real dimensão cultural, na qualidade de marcas identitárias indeléveis da sociedade brasileira e, por extensão, das Américas. Os desafios, violências e discriminações vivenciados por negros e negras, no Brasil, refletem a sistêmica desigualdade presente nas diversas estruturas que alicerçam o país e, mais do que isso, sustentam um violento paradoxo: na nação em que mais há demografia negra (fora da África), o nível de exclusão e invisibilização imposto à esses grupos atravessa todos os âmbitos, contextos e esferas sociais. Por estes e outros motivos, a Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros em Coimbra convida a todos e a todas para o seu evento “É Coisa de Preto [Todo] Dia da Consciência Negra’, de modo que possamos dialogar, celebrar e extender a memória histórica do dia 20 de Novembro no Brasil, data que testemunha e relembra a morte de Zumbi dos Palmares, líder quilombola de importância política e cultural para os movimentos de resistência negra. O título do evento expressa nosso entendimento crítico do momento atual no Brasil e da vastidão do Dia da Consciência Negra. Em primeiro lugar, compreendemos que Novembro é apenas uma data simbólica e emblemática da história de resistência negra, mas não resume a amplitude cultural e intelectual da negritude em sua diversidade. As dificuldades e felicidades das populações negras não se dão somente em um único dia, sobretudo, numa país majoritamente negro e que é também fundado por estes saberes. Em segundo lugar, exprimimos nosso total repúdio à recentes declarações racistas de um jornalista brasileiro que, acreditando não estar sendo filmado, profere sórdidas palavras contra a dignidade do povo negro. Tais atitudes são injustificáveis e inaceitáveis de acordo com o posicionamento político e com a composição étnico-racial da atual gestão da APEB-Coimbra, de maneira que o título “É Coisa de Preto”, expressão dita racistamente pelo jornalista brasileiro Willian Waack, é aqui ressignificado e empunhado como instrumento de enfrentamento e crítica. O Evento integra o ciclo Raízes no qual trazemos à baila debates académicos e vivências artístico-culturais que coloquem em destaque os saberes tradicionais, o arcabouço memorial que sustenta nossa sociedade, bem como pessoas e obras que representam os testemunhos e perpectivas de nosso passado histórico, sempre reatualizados. Deste modo, a ancestralidade negra e sua imensidão cultural e afro-religiosa são agora focalizadas para, a partir de suas reflexões, pensarmos sobre o lugar, ou os entrelugares, da população negra, considerando sua relevância, agruras e potencialidades na conjuntura da sociedade brasileira. Neste evento contamos com as participações coreográficas do Grupo de Danças Afro-brasileiras, e de Luciano Amorim Azevedo, ambos colocando na dança questões centrais sobre a mulher negra e sobre a exuberância das matrizes afro-religiosas. Para além da roda de conversa: O Candomblé - História e Desafios Contemporâneos com Luciano Amorim Azevedo.