19:00 até às 23:00
Luuanda Rising | Exposição individual Francisco Vidal

Luuanda Rising | Exposição individual Francisco Vidal

Grátis
Francisco Vidal, ou Xico, como o mesmo prefere, chegou até nós em 2016, ao aceitar o convite para a exposição colectiva Glocal - No Regional de um Espaço Sem Fronteiras. O artista angolano de 40 anos adentrou o espaço da Wozen cercado da aura de mistério e louvor que acompanha a maioria das referências ao seu nome nos círculos artísticos de Lisboa, Luanda e Londres. Sua voz grave e suave, e sua fala calma e poética, são um alento de simplicidade para quem recebe as primeiras frases do conceituado artista, com participações em importantes galerias, feiras e museus do mundo, como o Freies Museum/Savvy Contemporary - Berlim (2015) e a 56ª Bienal de Veneza (2015), e com trabalhos em grandes coleções como a Fundação EDP e a Fundação Calouste Gulbenkian. No ano de residência que se seguiu, cuja exibição individual LUUANDA RISING é fruto, pudemos concluir que estas primeiras palavras foram, na realidade, apenas a camada inicial e superficial do exercício diário de desvendar os meandros do complexo pensamento do artista. 

Francisco Vidal é uma linguagem codificada e, para ser propriamente entendido, deve ser estudado como tal.

Seu primeiro projeto dentro da residência Wozen, a Summer School (2016), seguida da Escola de Papel (2017), revela o ponto de partida para a formação desta linguagem, bem como o primeiro de seus pilares estruturais fundamentais: a palavra. Sua experiência como professor se inicia em 2012, em cursos de arquitectura em Luanda, como forma de melhor sustentar sua família. Por não entender a educação no sentido tradicional, como trânsito unilateral de conhecimento, Francisco buscou a criação de um ambiente intelectual baseado no mais puro colectivismo, no qual pensamentos podem coexistir e habitar em completa liberdade e harmonia, sem donos, sem amarras. Como resultado destas osmoses entre professores, alunos, colegas e família, vieram à tona seus primeiros códigos: UTOPIA LUANDA MACHINE _ AFRICAN INDUSTRIAL REVOLUTION _ REVOLVER, DESENHOS DE REVOLUÇÃO.

Estes novos conceitos falados, em constante evolução, sempre a acolher e mesclar novos nativos - KIEKELELA, a entrega na dança em Kimbundo _ NOVA LUANDA _ Nova Lisboa _ o Umbundo_ , cada qual com sua particular origem e densa significação, encontraram seu berço no papel e sua materialização na pintura, revelando o segundo pilar estrutural fundamental da linguagem de Vidal: os sinais visuais. Ao adicionar retratos de figuras importantes do pensamento contemporâneo angolano e africano _NAMEDROPING FOR THE AFRICAN INDUSTRIAL REVOLUTION_, o artista moldou um estilo fluido e intuitivo de trabalho, como o Jazz que tanto o influencia. Sua linguagem não segue uma ordem fixa ou linear e seus signos visuais buscam o mesmo plano elevado de liberdade das palavras, sendo projetados no espaço por meio de instalações em constante mutação.

LUUANDA RISING surge como a primeira tentativa do artista em afirmar a existência do _PENSAMENTO CONTEMPORANEO ANGOLANO_, buscando catalogar e apresentar os elementos essenciais da pintura Angolana, ao mesmo tempo em que reverencia e imortaliza os elementos operativos da classe trabalhadora, definição romântica reservada a seus pares artistas e criativos. Desta forma, LUUANDA RISING é o código maternal, contendo todos os outros códigos e representando a Utopia _UU_ de um pensamento livre com centro em Luanda, mesmo sonhado na geografia de Lisboa, em consoante com seu conceito global _NAM - Non Aligned Movement e com o conceito de World Citizenship da galeria.

Francisco Vidal é, ao mesmo tempo, criador e colecionador, aluno e professor, som e imagem. Sua exploração não almeja plenitude, apenas expansão, seguindo movimentos cíclicos, porém irregulares, nos quais palavras se tornam sinais por meio de ideias colectivas originadas na livre troca de conhecimento. Tais sinais se unem na criação de uma inovadora linguagem artística que mistura passado e futuro, símbolos e literatura, na busca pela verdadeira identidade cultural contemporânea de Angola e África.

A exibição LUUANDA RISING marca o encerramento da residência de Francisco Vidal na Wozen, condensando todo o desenvolvimento técnico e conceitual de 1 ano na prática do artista dentro da galeria. Marca também o início de uma nova fase de futuras descobertas no infinito cosmos de criatividade do angolano. A nós, como estudiosos do meio, cabe a gratidão pela oportunidade única de inserção profunda na intricada estrutura do pensamento artístico africano, veloz, poderoso, imprevisível e incontrolável, que pode agora também ser apreciada, em todo seu esplendor de cores e traços, pela comunidade lisboeta.

cura-dores
WOZEN

"LUUANDA RISING é o titulo desta série de trabalhos, que vai estar exposta em Lisboa, na galeria Wozen.
De 2012 a 2014 dei aulas de desenho em Luanda, nos cursos de arquitectura de várias escolas da cidade.
Nunca sonhei ser professor, mas através da necessidade de pagar contas e de desenhar o espaço para mim e para a minha família, embarquei numa dimensão grande do desenho, que é a troca de conhecimentos e informações com os alunos e estudantes.
É-me claro que a experiência foi muito proveitosa. Não pelas contas que paguei, mas sim por tudo aquilo que pensei colectivamente com pelo menos 200 pessoas durante o período de 4 semestres.
Foi neste espaço de troca que comecei uma série em papel a4 e tinta da china, que se chama "name dropping for the african industrial revolution", que é o inicio destes trabalhos em papel.
A intenção era apenas ter uma "sebenta académica" com retratos de pessoas importantes no pensamento contemporâneo angolano e africano, e nivelar estes retratos comuns com a presença no espaço físico e memória colectiva do antigo presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.
Dar importância e sentido de estado a elementos operativos da classe trabalhadora, como são os estudantes, os professores, os pintores, os poetas, os bailarinos, os arquitectos, os escultores, os que escrevem.
Uma classe que opera com a industria da criatividade e da intuição.
Assim, nas conversas com os meus alunos, (porque nas minhas aulas de desenho, intercalamos os tempos de silêncio, risco e respiração, com muita conversa, muitas palavras, signos e sinais, crítica e códigos).
Apareceram termos cunhados por nós, assinados pela excitação de jovens adultos, por mim, com 36 anos em 2014, e alguns mais velhos, que aproveitaram o tempo de paz para voltarem para a escola e fazer o curso que sonharam um dia. Arquitectura.

UTOPIA LUANDA MACHINE

PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO AFRICANO

AFRICAN INDUSTRIAL REVOLUTION

REVOLVER, DESENHOS DE REVOLUÇÃO.

Luuanda e Rising foram as duas palavras que mais me inspiraram este Verão, 
foram me dadas pela Namalimba, numa conversa de paixão e pensar pela cidade. Ela propôs-me a palavra do titulo do Livro de 1963 e eu propus São Paolo de Loanda. Isto em Lisboa, na véspera de uma viagem a São Tomé, onde estivemos com o João Carlos Silva, a fazer experiências com KIEKELELA, que quer dizer entrega em Kimbundo. Entrega na dança.

A ideia da NAM é Luuanda porque o UU tem Utopia, a poesia da palavra quando o kimbundu entra no texto escrito em português, o sonho que promove uma utopia ou um pensamento utópico. A proposta de liberdade do pensamento que tem como centro Luanda, mesmo que seja pensado ou sonhado noutra geografia. gosto do O de Loanda em “São Paolo de Loanda”, da sua génese. Mas de facto, como sinal e como signo UU é fortissimo, e o grafismo nas pinturas fica muito bem. 

UU
NOVA LUANDA
o Umbundo
Nova Lisboa
NAM - NON ALIGNED MOVEMENT

A exposição de trabalhos LUUANDA RISING, teve quase para se chamar Pintura Angolana, como a "guitarra portuguesa" o album de 1967 de Carlos Paredes.
É um statement.
Porque a intenção de descobrir, nesta série de quase 50 pinturas, elementos essenciais da pintura Angolana, existe.
Os conceitos desenvolvidos com os meus alunos e com os meus pares sobre o pensamento angolano contemporâneo são visíveis e existem. Em Luuanda, o Livro de 1963, a linguagem da cidade e dos musseques tem a intenção de escrever com o sotaque e com os vocábulos Luanda.
Com a KIEKELELA da Nam, experimentamos tons raros de códigos de Luanda. Mas raros são preciosos.
Neste momento em que exponho todos estes signos juntos, sob o Levantar de Luuanda. Paralela à exposição em espaço Wozen, o pensamento contemporâneo de Luuanda é ainda mostrado na exposição colectiva que inaugura no mesmo dia no Hangar, chamada "Luuanda”, com curadoria de Suzana Souza, Paula Nascimento e Bruno Leitão. Os artistas são: Albano Cardoso, Cristiano Mangovo, Ery Claver, Ilhosvanny, Januário Jano, Kiluanji, Keyezua, Pedro Pires.
A mim parece-me que esta coincidência de data, titulo, e geografia sublinha mesmo (e a flúor), a existência forte do PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO ANGOLANO. Os termos da Literatura são nossa riqueza comum.
estes nomes estão no meu circulo de pares, muitos estão também na minha sebenta.

NAMEDROPPING FOR THE AFRICAN INDUSTRIAL REVOLUTION" 
Francisco Vidal 
Algés Setembro 2017

Vernissage: 19h as 23h
Exposição Luuanda Rising até o dia 22nov2017

Galeria WOZEN
Rua das Janelas Verdes, 128 B. Lisboa, Portugal
De Terça a Domingo, das 14h às 20h
Entrada livre
Contato: hello@wozenstudio.com
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