O Grupo de teatro Skaenika, de Granada, apresenta no Teatro de Bolso do TEUC | AAC, inserido no XIX Festival de Teatro de Tema Clássico, a peça "Teje una noite clara. Quimeras de Federico". Skaenika Teatro, da Universidade de Granada, viaja sem bilhete de volta pelas palavras de Lorca, buscando atalhos e labirintos que nos desviam do sendeiro principal. Teje una noche clara é uma imersão nas insónias lorquianas feita de fragmentos de agonia e ternura, de imagens noturnas e sonâmbulas, de farsa e verdade cénicas. Uma peça quase impossível, porque quase impossível é também essa lua lorquiana, musa do desejo e da solidão, maga ancestral que converte em carne a madeira dos choupos, Penélope de luz capaz de acender a noite dos mais escuros relâmpagos. Como na torpe lógica dos sonhos, cheia porém de sentido oculto, neste tecido se entretecem as linhas tanto dos seus poemas de juventude – esses em que os pátios andaluzes se convertem em templos da Grécia de Apolo, Platão e Safo – quanto as do mais irrisório teatro dos seus últimos dias – cenário no qual a teatralidade tira a máscara e aponta o dedo à mentira que é a própria vida. Theatrum mundi. Este mundo ao contrário, no fim de contas o sentir poético e teatral do Lorca noturno, não deixa de ser o mundo dos mistérios do eterno feminino. O corpo da mulher é a fisiologia da terra. O seu desejo, a fertilidade e o porvenir humano. A sua solidão e opressão, o pruro reflexo da torpeza humana e da angústia da nossa condição, finita e pequena ante o mistério da existência. A sua voz, o nosso anseio de ascese e liberdade.