Este é um projeto de criação de duas artistas com percursos distintos. Ana Arinto (Viseu, 2000) e Ana Rita Ferreira (Almada, 1997) juntaram-se numa altura crítica para criar e falar sobre o mais básico do seu ser, o que as une e o que as separa na sua condição de jovem mulher. Através de uma investigação tendo em conta testemunhos e textos de filósofas e feministas de várias épocas, como Virginie Despentes, Maya Angelou, Chimamanda Ngozi Adichie, e tendo por base obras cinematográficas como as de Ingmar Bergman e as de Woody Allen e obras dramáticas como as de Anton Tchékhov, foi elaborado um texto num só ato que se desdobra em três, retratando momentos familiares de conflito ideológico entre três irmãs, três mulheres, três formas e ver e de sentir o mundo. Este conflito surge pelo próprio confronto de verdades. O que é a verdade? Como é que várias verdades conseguem coexistir? Por detrás de um jantar familiar aparentemente inocente, são abordados vários temas intrínsecos à sociedade e ao ser humano e aos próprios jovens adultos. Falamos da procura incessante por um parceiro romântico, os medos obsessivos de engravidar e não engravidar, da dependência da pílula e suas consequências hormonais, dos complexos associados à nossa imagem, falamos do assédio permanente e da perda da figura paternal na relação entre elas e entre todas estas temáticas. O espetáculo repete-se sem que haja repetição, quase como um loop em dimensões diferentes. O desdobramento de cada ato é criado através da perspetiva, emoções e sentimentos de uma das irmãs, uma das mulheres em cena, do seu percurso pessoal, profissional e familiar, e do conflito que existe entre as três. Não pretende ser um ataque ao que a sociedade espera de cada uma das personagens, mas essencialmente, um confronto com o que cada uma espera de si própria enquanto membro de uma sociedade patriarcal, capitalista e egoísta, num mundo governado pelos homens, aqui falado sob a perspetiva de três mulheres.