"Medicinas Tradicionais- Sentidos e Saberes"

Palestra sobre Saúde, com o presença de Aurélio Lopes, Antropólogo, Investigador e Professor".
Sintese:
Pode dizer-se que na tradição popular portuguesa o mal surge, normalmente, como decorrente não de um qualquer mau funcionamento orgânico, mas de algo que existe para lá (e independentemente) deste e da sua ação manifesta.
Doenças são atribuídas às mais diversas entidades mais ou menos maléficas. Azares, transcendentalmente interpretados. Acidentes têm quase sempre, por detrás, sobrenaturais e, quantas vezes, tenebrosas causalidades.
Se o mundo constitui um ambiente perigoso, o nosso corpo é particularmente vulnerável a uma imensidão de criaturas mais ou menos identificáveis e uma, ainda maior, infinidade de entidades ignotas e intangíveis.
Portanto, se um corpo possuir uma anomalia funcional, ela surge como provocada por uma entidade, de alguma forma negativa, que degrada o corpo e pode levar ao seu disfuncionamento definitivo.
E é neste contexto que os processos de cura se estabelecem.
Curas que possuem uma lógica própria. Não experimental, mas experimentada. Não assentando na razão científica, mas na analogia homeopática, holística e transcendental. Entendendo o Cosmos como um repositório de energias que fluem e refluem em ignotos campos e dimensões.
E cujo conhecimento (hermético, em maior ou menor grau), permite instrumentalizá-las em peculiares ações mágicas mais ou menos ritualizadas. Mesmo aquelas que, pela sua singularidade, surgem, à primeira vista, como macarrónicas e inexplicáveis.
Conhecimento consubstanciado no curandeiro ou curandeira. Que se envolvem de um mistério que atrai e seduz.  Que a transcendentalidade plasma e a sugestão enforma.
Afinal, na perspetiva do homem do povo, não possuindo, o mesmo, o saber dos estudos, só pode possuir o conhecimento resultante do seu “dom” sobrenatural. Dito de outra maneira, não possuindo o saber dos homens, apenas pode possuir o saber de Deus.