MOVIMENTO SUSPENSO Escultura Jacinto Rodrigues Irrompe o corpo, em tensão ascendente. Há uma força subterrânea que o faz emergir. A forma ondulada, contorcida ou espiralada, girando sobre um eixo central, quer afirmar-se. O seu lado subterrâneo, o seu rizoma, adivinha-se, e o uso do plinto sugere, não o acessório e tradicional suporte do objecto artístico, o pedestal, mas a origem telúrica do ser. Algumas esculturas aproximam-se muito de uma configuração vegetal. Isto está presente nas peças em madeira. O tratamento dado à sua superfície, lisa e acetinada, reforça o ímpeto irruptivo de uma renovação, de um surgir cíclico. Duas peças em madeira contrariam a disposição dominantemente vertical desta exposição: o corte transversal de um tronco, onde se inscrevem as fases de crescimento, materializando o sentido de tempo e revelando a memória e identidade da “coisa” natureza. É a única que preserva a configuração estrutural do material de que é feita, o tronco seccionado duma árvore. É uma mesa, um objecto utilitário e, simultaneamente, um objecto que vale pela sua presença expressiva. A esta junta-se outra, com orientação horizontal, colocada na parede. Essa verticalidade é reforçada, por uma escultura em madeira (Ondulação para o infinito) e por duas em pedra (Paisagem geológica I e Paisagem geológica II), cujas linhas rectas são conjugadas com as linhas onduladas. As duas esculturas, uma em mármore de Estremoz e a outra em traquito do Porto Santo poderiam ser fragmentos de colunas. Não há devaneios dionisíacos. A sua presença é apolínea, dominada pela pedra fria, texturada ( escassilhada ) em duas das faces planas simétricas. Mesmo as inserções de tufo de lapilli e basalto são feitas a espaços regulares. Dir-se-ia que estas peças poderiam perfeitamente prolongar-se em altura e da mesma forma, sem que perdessem a sua expressão, bem pelo contrário. Os materiais de origem botânica e geológica concorrem para uma expressão da sua própria natureza. A tensão e a fusão entre o feminino e o masculino, entre o pesado e o leve, entre a terra e o ar dão significado à relação espacial entre as peças. Um vago estado de levitação perpassa pelo conjunto. Eduardo de Freitas Nov. 2016