Ninguém estranhará que aqui se diga que exposições individuais de bons nomes modernistas são difíceis de conseguir. Mas como pode prosseguir sem o enorme prazer de as apresentar uma Galeria que, na fachada, a seguir ao nome, inscreve “Arte Moderna e Contemporânea – Trabalhos sobre papel”? Nesta sua faceta a Galeria expôs já Emmérico Nunes e Bernardo Marques, artistas do primeiro e do segundo modernismo, respectivamente, e André Derain que, com Matisse e Vlamink, esteve na origem do Fauvismo. É chegada a altura de darmos o palco a uma quarta figura deles contemporânea. Filha de pais belgas, Mily Possoz nasce em 1888, nas Caldas da Rainha. A sua formação como artista plástica, iniciada em Portugal, é feita sobretudo em França onde, mais tarde, na mais longa das suas estadas em Paris, virá a integrar o movimento Jeune Gravure Contemporaine. É sobretudo na obra gravada que Mily Possoz se destaca sendo a ponta seca a técnica da sua predilecção e aquela onde a artista atinge o melhor da sua arte. Com um traço limpo que lembra Foujita, de quem se fez amiga, Possoz trata temas tranquilos, repousantes num desenho amável e muito figurativo. Entre meninas exemplares, floristas e umas quantas coquettes aparecem varinas de rostos igualmente doces e delicados, nada com o ar de quem berra pregões. E tudo, claro, com Sintra em fundo. Na exposição são mostradas 27 gravuras – pontas secas, justamente – e dois desenhos. As gravuras estão, todas elas, fechadas em molduras francesas da segunda metade do século XIX que, sem disso ter consciência, fui adquirindo ao ritmo a que ia licitando as gravuras. Só a meio dos dois percursos é que percebi o óbvio: embora não exactamente contemporâneas, aquelas molduras tinham nascido para estas gravuras. Acelerei então as compras: estas em Lisboa, aquelas em Paris. JEO, Set. 2016