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Colectiva - A.calpi

Colectiva - A.calpi

A exposição "Colectiva" marca a estreia em público da obra plástica de A.calpi, actor e bailarino, uma obra prolífica e variada. Aqui representada desde 2000, a obra de calpi estende-se ao longo de várias décadas, e abrange a performance, a fotografia, a colagem, o assemblage, a escultura e o desenho, a cenografia e a decoração, e também o inclassificável.

Os pontos de partida do trabalho plástico de calpi são uma inescapável necessidade de criar e um reutilizar de materiais, domésticos, encontrados na rua, doados por amigos. Parece uma combinação natural: o artista nato cria constantemente, compulsivamente, com aquilo que encontra pelo caminho. Por outro lado, este modus operandi artístico pode também ser visto como uma tomada de posição política - e é-o, claro, como tudo o é, de resto - mas não é feita com intenções moralistas ou proselitistas. Tão só com intenções poéticas.

Mas a poesia e a atualidade alinham-se, sempre.

Numa altura em que o antropoceno se tornou um tema corrente (tanto no mundo da arte como no mundo que é mundo), a posição de calpi e esta exposição nesta altura parecem fazer sentido. Mas esta mostra não só deita luz sobre a produção material humana, seja ela primária ou reciclada, mas, através da sua prática, o artista estabelece um -ceno próprio a estes materiais. Coloca sob a lupa estes objetos, que já tiveram vida prévia, dando-lhes uma certa nobreza - que podem ou não ter tido nas suas vidas anteriores – e uma infinidade de identidades possíveis.

Mas claro que estas obras colocam também sob a lupa a vida do artista, mas esta é uma lupa quebrada e turva. Os indícios na cena do crime da vida ajudam-nos a formar uma imagem do que se passou nessa cena, uma imagem com a qual temos uma certa familiaridade, mas que, afinal, é uma miragem. Nunca saberemos exactamente o que se passou, mesmo se podemos deduzir, projectar, e, até, às vezes, sermos despistados.

A cena neste caso é a casa de calpi, onde quase todas as obras foram criadas. Isto, por si só, não tem nada de extraordinário, se não fosse o facto de que as obras nunca saíram deste ambiente doméstico (a não ser os exemplos que o artista ofereceu aos mais próximos). Foi arte feita para ser feita, e não com o intuito de ser mostrada. O seu habitat tem sido hermético, até agora, uma família alargada de obras de arte, com vários genes em comum, alguma miscigenação, ramos da árvore genealógica que se estendem por gerações ou que acabam abruptamente.

Porém, este é um hermetismo poroso e o exterior entra sempre dentro: referências a outra arte, a viagens, a vivências, a cultura, a hábitos sociais, são estratificadas com o íntimo, o doméstico, e até os detritos, formando assim uma arqueologia alargada do lar. Momentos da vida diária são sacralizados, com um certo aprumo, se bem que reciclado (e portanto com um toque de ironia), ou então mais ou menos en passant.

Monumentos e troféus compostos por elementos nobres e outros mais mundanos que revelam orgulho na fragilidade e na transitoriedade do enfeite, composições que criam uma relação directa com o espectador como se fossem espelhos ou páginas de livros de horas, uma erudição desconstruída que desvela os moldes do artista e o desejo do os quebrar, e uma estante atulhada de mnemónicos. Este baile de debutantes sabe que é belo e que não precisa de uma patine, e que a sedução passa também por mostrar as imperfeições e o que está por vir.


Eva Oddo.


A.calpi (Lisboa, 1952). Estudou fotografia no IADE (1972). Foi aluno fundador do Ar.Co, onde tirou o curso de serigrafia e teoria da cor (1972). Ingressou no Conservatório Nacional em 1974, licenciando-se em 1977. Terminou a sua formação em The Lee Strasberg Theatre Institute (1981/2). Em 2016 publicou o texto dramático Símil, pela Companhia das Ilhas. colectiva é a sua primeira exposição.
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