Abertura da exposição
"MISFIT", de Henrique Biatto
Sexta-feira, 08 de novembro | 18 horas
O artista, Henrique Biatto e o CCCV – Centro Cultural de Cabo Verde, têm o prazer de convidar para a abertura da exposição Misfit, que terá lugar no dia 08 de novembro, às 18 horas, no CCCV, localizado na Rua de São Bento, 640, 1250-222 Lisboa. A entrada é livre
Sobre a exposição Misfit:
MISFIT | Henrique Biatto
Curadoria e texto de Katherine Sirois
O grupo de trabalhos apresentados nesta exposição inclui duas instalações que se expandem no espaço. Com o título Baile (2024), a primeira consiste em 50 peças de cerâmica que representam 25 pares de pés nus em forma de sapatos de salto alto vestidos com meias pretas. Esta multiplicação de uma parte do corpo humano alastrando-se pelo chão entra numa estreita relação com Blue (2024), uma fotografia de grande formato tirada no Museu Gulbenkian, em Lisboa, no salão dedicado à colecção permanente de mobiliário francês do século XVIII.
Em cada uma das fotos desta série de três (publicada no e-magazine lisboeta Wrong Wrong), o artista colocou um par de pés em cerâmica — vestido respectivamente de meias azuis, amarelas e vermelhas — em relação directa com as antiguidades. Na imagem impressa que está incluída nesta exposição, os pés vestidos de azul passeiam junto a um imponente sofá “à confidents”, com data de 1784. A unidade ricamente decorada é feita de madeiras raras cobertas com folha de ouro e de uma tapeçaria Gobelins representando uma grinalda de flores e de folhas. O sofá está localizado frente a uma tapeçaria mural da Manufactura Real de Beauvais (1755). A cena idílica, intitulada Noble Pastorale, é baseada num conjunto de composições do artista rococo François Boucher.
O par de pés induz a presença de um corpo invisível que deambula pelos corredores de uma coleção elegante e luxuosa. Traz assim o tema do “misfit”, de qualquer coisa que está fora do lugar, que não se ajusta ao decorum, ao cenário, à forma, à caixa, à imagem, à paisagem social ou às expectativas. Através da confrontação encenada de dois universos históricos, sócio-políticos, económicos, artísticos e estéticos distantes tal como acontece na fotografia, e através da proliferação dos pares de pés descalços dentro do espaço expositivo, o artista explora as questões da identidade e da visibilidade cultural e social, da alteridade, em conjunto com as questões de adaptação e de inadequação, afiliação e exclusão.A segunda instalação, Ilha (2024), é uma forma retangular em carvão que se estende pelo chão e que integra uma série de objetos ambíguos em cerâmica branca. À maneira do Surrealismo, a instalação em forma de tapete, com os seus materiais contrastantes e as suas curiosidades, esbate as fronteiras entre o sonho e a realidade. Interage com obras onde objetos mundanos, peculiares e inesperados se combinam, jogando ao mesmo tempo com o contraste entre peso e leveza. A Pair of Something (2024) consiste na reunião de uma mesa de apoio comum, alterada pelo fogo, e de uma cadeira sobre a qual é colocada uma tela quadrada coberta com papier-mâché. Barulho (2024), um pesado objeto preto, difícil de identificar e num cenário que desafia a gravidade, integra uma delicada concha branca. O conjunto sugere a inquietante familiaridade de um interior preenchido com elementos degradados, surpreendentes ou misteriosos.
A ideia do misfit, tal como a diferença entre peso e leveza, é ainda mais explorada com as pilastras de tijolo partidas provenientes do lixo de demolição, e a caixilharia de janelas em ferro, invertidas e “flutuando” na parede, que induzem uma sensação de dinamismo. À semelhança da abordagem conceitual de Marcel Duchamp, materializada nos seus ready-mades (recordamos aqui em particular Fresh Widow, 1920), Biatto apropria-se de objectos encontrados, mostrando-os inalterados ou com intervenções mínimas. Algumas pedras, algumas perdas (2024), uma instalação de pequenos objectos escultóricos feitos de papier-mâché e aguarelas, evocam pegas de uma parede de escalada de um ginásio ou algum tipo de fósseis expostos em contexto museológico.
As obras da exposição reúnem géneros e registos opostos, que vão do prestígio, da elegância e da sofisticação até a objectos e materiais brutos, simples e rudes aproximando práticas artísticas e contextos sociais distintos. Evocando o espírito e os recursos não convencionais de artistas do movimento Arte Povera, o trabalho de Biatto justapõe natureza e indústria, artesanato e arte conceitual, luxo e decrepitude. A sua abordagem propõe uma experiência visual que revela o significado das vivências e dos encontros cotidianos como parte inseparável do processo criativo.O acto de integrar objetos e restos das ruas ou dos mercados de segunda mão nas intervenções performativas, de combinar um grande refinamento com cerâmica contemporânea envolta em peças de roupa de pronto a vestir é propício a despontar um certo sentimento de desconforto semelhante ao que é produzido por qualquer manifestação “misfítica”.
Mas o que a exposição realmente mostra é a forma como o diverso e o heterogéneo acabam coexistindo e fundindo-se da melhor forma.
Esta exposição individual, com curadoria de Katherine Sirois, é acolhida pelo Centro Cultural do Cabo Verde no âmbito do concurso nacional Arte Jovem como prémio atribuído ao artista brasileiro residente em Lisboa, Henrique Biatto. Conta com o apoio da Embaixada de Cabo Verde e da República Portuguesa - Cultura / Direção-Geral das Artes
Exprimimos os nossos agradecimentos à Embaixada da República de Cabo Verde em Portugal e a toda a equipa do Centro Cultural Cabo Verde pelo acolhimento e colaboração no projeto. Agradecimentos especiais ao António Filipe Pimentel, diretor do museu Calouste Gulbenkian, à Clara Serra, curadora do mobiliário do século XVIII, à Leonor Nazaré e ao Pedro dos Reis por terem apoiado a realização da série fotográfica B, Y, R (2024) nas coleções permanentes do Museu Gulbenkian em Lisboa.
Ficha Técnica
Organização / Organization
Centro Cultural Cabo Verde
Embaixada da República de Cabo Verde em Portugal
Gestão e coordenação / Management and Coordination
Ângela Barbosa
Ricardo Barbosa VicenteDireção artística / Artistic direction
Katherine Sirois
Ricardo Barbosa VicenteCuradoria e textos / Curator and texts
Katherine SiroisDireção e Realização photo “Azul”/ “Blue” photo realization
Henrique Biatto
Katherine Sirois
Pedro dos ReisRegistos fotográficos / Photographic register
Davidson Santos
Nicolai NekhDesign
Pedro BarassiComunicação / Communication
Davidson SantosProdução / Production
Katherine Sirois
Ricardo Barbosa VicenteMontagem / Exhibition installation and transportation
Carla, Lucas e Pedro Canoilas
Henrique BiattoTransportes / Transportation
Carla e Lucas CanoilasTradução
NMPApoios / Supports
Embaixada da República de Cabo Verde em Portugal / CCCV
DGArtes