“Diálogos (In)temporais”, reúne obras de dois nomes de referência na arte contemporânea, Sofia Areal uma artista de Portugal Continental, que vivenciou a ilha de São Miguel durante quatro anos, e Urbano, um artista micaelense. Esta exposição convida-nos a suspender o tempo, a olhar para além das nossas próprias limitações temporais, e a vivenciar a arte como um portal que nos transporta para uma dimensão onde o passado, o presente e o futuro coexistem em harmonia. Nesta exposição, a intemporalidade revela-se como um campo fértil de possibilidades, uma viagem que nos conduz a questionar a nossa própria existência no tempo e a beleza efémera das coisas. Aqui, a arte não é apenas uma expressão do momento; é uma porta aberta para o infinito, onde o tempo se dissolve e apenas a essência permanece. Apesar de Sofia e Urbano terem trajetórias artísticas distintas, ambos compartilham uma forte ligação com a abstração, a cor (ou a ausência dela), a natureza e a emoção. Enquanto Areal se foca numa linguagem mais gestual e energética, Urbano incorpora uma maior ligação com o ambiente natural e uma sensibilidade mais contemplativa. Em ambos os casos, as obras abstraem e sintetizam o mundo à sua volta, criando diálogos visuais que convocam o visitante para uma experiência sensorial e emocional única. Sofia Areal, conhecida pela sua linguagem abstrata, trabalha a cor e a forma de maneira vibrante, explorando o diálogo entre a matéria e a espiritualidade. As suas composições estão repletas de dinamismo, onde manchas, linhas, círculos e cores se fundem num campo visual que estimula a imaginação. O círculo na sua obra não é uma figura estática; é movimento, é pulsação. Ele emerge como um símbolo fundamental da sua gramática plástica, sugerindo continuidade, transmutação e uma interligação entre todas as coisas. Para Sofia, o círculo representa a vida na sua plenitude — é nele que tudo cabe. Ele é a síntese da existência, uma forma que abriga o início e o fim, o interior e o exterior e que liga todas as dimensões da experiência humana. Observando as obras do Urbano, percebemos que as formas já existiam num plano etéreo, moldadas à luz das emoções. Uma paleta fortemente habitada por azul revela de forma quase minimalista o banco onde a avó se sentava a ler a Bíblia, contribuindo para um sentimento onírico, em que a função do objeto é mais ligada ao significado pessoal do que ao realismo, “Setembro #3”. Seguimos “viagem” pelas suas memórias, que despontam suavemente, de mansinho, como uma promessa, e que nos conduzem, gradualmente, a uma explosão de cor, repleta de fragmentos da infância. Esse clímax, de uma vibração quase fauvista, encontra-se espelhado em “Setembro #6”, obra de cores fortes e vibrantes. Essa memória fresca que se tornou real, e que sendo íntima é também universal, vai-se esbatendo, aos poucos, de regresso ao seu lugar ancestral, “Setembro #12”. É com este diálogo, que transcende o tempo, que damos início ao projecto Pontes Culturais da Romanti Cultura.