«A partir das paisagens fotografadas pelo meu pai, em diapositivo (slide), as pinturas da série Corpo Paisagisante buscam a transposição daquelas imagens-luz que se projetam na superfície da memória da minha infância e as atualizam em materialidade pictórica, compondo um corpo que se paisagisa e ocupa espectralmente a paisagem originalmente fotografada. Esse corpo sempre esteve (e ainda está) presente virtualmente na paisagem registada em slide e pode apresentar-se por diferentes formas ao atualizar a sua visibilidade.
Barcos, casas, rochedos e tantas outras possibilidades para dar visibilidade numa pintura a um corpo paisagisante. São formas para expressar a força da passagem flutuante de um corpo-barco sem rumo certo; a imobilidade de uma corpo-casa que sofre nas suas estruturas com a passagem do tempo; a solidez de um corpo-rochedo que impercetivelmente modifica-se pelo intemperismo. São todos um só corpo de uma vida que se paisagisa a cada vez.
Em cada pintura, esse corpo ganha diversas superfícies paisagisadas na composição entre a imagem fotografada e os atravessamentos que a sua transparência permite, atualizando a imagem por um jogo de sobreposições onde «passado» e «presente» confundem-se e tornam-se um só corpo. Essa nova materialidade que a imagem produz não é finita nem decisiva – é vulnerável e aberta, transmuta-se nos acontecimentos de uma intervenção externa, de um desejo intrínseco ou na combinação de ambos.»
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