SÁBADO | 1 Jun. – 18h00 Abertura da exposição Timor: a narrativa fotográfica de uma dor antiga, de J. Paulo Coutinho A exposição estará patente até 26 de Junho de 2024, podendo ser visitada às quartas feiras a partir das 18.00h, às segundas feiras a partir das 19.30h e sempre que haja outros eventos na Macaréu – associação cultural. Nota explicativa Quando recebi o convite da Macaréu para participar , ao qual me ligam laços afectivos, hesitei. Estas fotografias, nada mais são que uma evocação, um exercício de memória, de reavivar a história que cada uma tem, quando as fiz, nesses anos de incertezas. Acompanhei, como muitos, os recentes capítulos da nossa história colectiva na luta por um Timor livre. As iniciativas que se organizaram em Portugal, entre manifestações e vigilas e as ações diplomáticas, que foram ocupando espaço mediático. Acreditava-se. Embora a luta fosse desproporcional, tais os interesses envolvidos, que aparentemente, esse caminho ia desembocar numa utopia. Esta utopia como já o disse, despertava os portugueses para uma causa, enquanto os Timorenses quase sucumbiam ao peso pelos interesses estrangeiros do petróleo e da madeira. Encontrei nestes tempos de hoje, de angustias e desesperos, de descrenças e cansaços e incertezas, uma razão para evocar a causa Timorense. Nesta mão cheia de retratos, quase todos anónimos, olhados de frente como de frente olharam para o seu futuro, também eles acreditaram em causas colectivas, que tornaram o impensável em possível! J paulo Coutinho O Vinte e Cinco de Abril chega em tempos distintos ao “imenso Portugal”. Em todo lado, o seu luminoso halo libertador é acolhido na rua, de forma festiva e fraterna. Para muitos, muitos cidadãos o sopro regenerador que corre do Minho a Timor, pelas ruínas do velho império, encerra um duplo sentido: à liberdade individual junta-se um país novo. A pátria, a terra da fraternidade, desenhada pelos que, na luta, beberam o doce vinho da utopia. Na remota terra de Timor a boa nova de Lisboa chegaria com o atraso plausível da época. Porém, a sua implementação encerra uma história trágica, cruel. A utopia, fruto ali ao alcance da mão, é bruscamente esmagada pelo novo invasor de azorrague em riste, ávido de sangue e desumanidade. De novo a luta, o regresso à mata. De novo a resistência intrépida dos tais homens e mulheres que partilham o doce vinho da utopia nas situações mais agrestes. Só em agosto de mil novecentos e noventa e nove, por referendo, o povo de Timor ergue do chão a sua pátria. As fotografias de João Paulo Coutinho reportam esse tardio Abril timorense. Pouco depois da consulta popular, durante três semanas, além do trabalho para o jornal, fotografa rostos anónimos da gente simples, sobrevivente da ocupação. A preto e branco. A preto e branco “o dramatismo” é mais pungente, garante o fotógrafo. Ou seria outro o motivo? No referendo, os timorenses votam por esmagadora maioria pela independência. Mas existem marcas difíceis de rasurar: eles (sobre)viveram à noite repressiva, imposta pela inclemente ditadura indonésia, e no lugar da alegria, conquistada nesse ato redentor, havia ainda o medo. O pressentimento de um futuro, como o passado, tumultuoso. E, é verdade, estavam certos. O preto e branco, além do dramatismo, aproxima quem observa os rostos da verdade histórica. Quando João Paulo Coutinho expôs alguns dos trabalhos, no verão de 2011, numa galeria do Porto, encontrei neles a narrativa de uma dor antiga, herdade de geração em geração, ferida pela ferocidade do novo ocupante. No olhar das crianças, dos homens e das mulheres, novo e velhos, de Díli e Baucau, a mesma melancolia transparece. Melancolia que desagua nos olhos, e tudo que assoma no olhar difícil será de esconder. Não há um sorriso Francisco Duarte Mangas Jornalista e presidente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto https://macareu.org/ 🥑 O bar/ petiscaria abre às 20:00 para o jantar – só por marcação 📞 933135993