"Portelos, cancelas e biqueiros" é, em primeiro lugar, um projeto fotográfico de pulsão arquivista, iniciado em 2013, que reúne um conjunto de fotografias sobre estratagemas agrícolas improvisados encontrados nas embocaduras de courelas, lameiros e cortinhas ou parte de cercados e terrenos murados de geografias interiores compreendidas entre Alturas do Barroso e Cabeceiras de Basto. Marcas de propriedade privada ou freio das ousadias do gado, estas esculturas involuntárias configuram em si um repertório surpreendente de combinações entre materiais, subtilezas construtivas e compositivas que nos devolvem a infância e todo esse universo pueril de liberdade, engenho e invenção; são potência metafórica numa leitura política da realidade interior do país sujeita ao êxodo e emigração galopante; são ainda sismógrafos de uma economia/ecologia de sobrevivência típica destes lugares.
Esta exposição apresenta, num ensaio dialógico com as obras de Alberto Carneiro, um diaporama com uma seleção de diapositivos do arquivo (ampliado recentemente) e um maciço de desenhos realizados há dez anos, ainda antes das primeiras revelações fotográficas, quando as imagens latentes (por detrás das pálpebras ou ufanamente gravadas na memória) nos reaparecem na luz do mineral grafite ou nas manchas da vieux-chêne.
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