Por A Recoletora, com a herbalista Fernanda Botelho
Por definição, um terreno “baldio” é aquele que não está cultivado ou está por cultivar, e que por isso é inculto, maninho. “Baldio” é também o termo utilizado para designar um terreno que é gerido e usado coletivamente por uma comunidade local, onde se pasta o gado, apanham matos para as camas dos animais e para adubar as terras, recolhe a lenha para a lareira.
Atualmente, em Portugal, são raros os terrenos aos quais podemos ainda chamar baldios neste sentido original da palavra. Com o Estado Novo, estes foram entregues a privados para exploração agrícola e, sobretudo, apropriados pelo Estado com vista à florestação intensiva (numa fase inicial com pinhal e mais tarde com eucaliptal). *
No entanto, existem ainda alguns locais residuais, inclusivamente na cidade, onde a natureza vegetal cresce de forma espontânea e que nos dão notas desse tempo em que a terra não tinha propriedade, sendo simultaneamente de todos e de ninguém, cujos recursos eram geridos com parcimónia e coletivamente não pondo em causa o equilíbrio do ecossistema nem a partilha com as gerações futuras.
É a partir desta ideia subjacente de “bem-comum”, que vamos deambular pelo Monte da Ervilha (um dos locais mais férteis em todo o concelho do Porto e onde ainda predominam as espécies autóctones) à procura de plantas silvestres comestíveis e medicinais. Vamos aprender a identificá-las, a nomeá-las, os seus principais usos, as suas curiosidades botânicas e culturais e com isso vamos reconhecer o seu valor e importância, para, por fim, percebermos que este baldio não está vazio nem é inculto. Muito pelo contrário. Este baldio é um oásis verde na cidade que devemos cuidar e proteger.
Com esta deriva, A Recoletora quer consciencializar os participantes para a preservação dos baldios urbanos, enquanto redutos da diversidade selvagem e, simultaneamente, enquanto espaços de resistência e liberdade onde se podem ensaiar outros modos de pensar e co-habitar o espaço na cidade.
Ponto de encontro MONTE DA ERVILHA – Rua Prof. Rodolfo de Abreu N.º 146, junto ao descampado entre prédios
Nota A inscrição nesta deriva inclui a oferta de um caderno de notas e de uma bebida silvestre.
A Recoletora é a prática comum do artista Alexandre Delmar e da designer Maria Ruivo, dedicada ao estudo dos lugares de reciprocidade e interação entre as comunidades humanas e as vegetais. Num trabalho de contínua de pesquisa, inventariação e mapeamento das plantas espontâneas comestíveis ao resgate de conhecimentos ancestrais e contemporâneos, propõe-se uma redescoberta da cidade através da recoleção e da deambulação pelos territórios do baldio urbano e da paisagem construída. Juntamos botânicos, herbalistas, chefs, artistas, arquitetos e designers num projeto colaborativo e itinerante, que tem como objetivo trabalhar as temáticas relacionadas com a autonomia alimentar, a recoleção, o herbalismo, os saberes-fazer tradicionais, a paisagem, a memória, a etnobotânica ou a literacia ecológica, promovendo ações participativas como cartografias, caminhadas guiadas, workshops, refeições partilhadas, performances, conversas, exposições e publicações.
INSCRIÇÕES
BILHETEIRA ONLINE
Nos espaços do Museu do Porto ou Biblioteca Municipal Almeida Garrett.
Inscrições
2€
Cartão Porto, titulares do cartão Bibliotecas Municipais, colaboradores CMP e Empresas Municipais
1€
Estudantes
1,40€
Limite de 20 participantes. + info educativo.museudoporto@cm-porto.pt. ou (+351) 226 057000.
A atividade não está coberta por seguro de acidentes pessoais.
Fonte: https://museudoporto.pt/recurso/deriva-21-baldios-urbanos-espacos-de-resistencia-e-liberdade/