De Antero de Quental (1842-1891) dizia-se ter um caracter impetuoso e combativo, destacando-o como figura preponderante na Questão Coimbrã e nas Conferências Democráticas, também conhecidas como Conferências do Casino, onde proferiu a primeira e, provavelmente, a mais influente, Causas da Decadência dos Povos Peninsulares. O protagonismo público que Antero assumiu ao longo da sua curta vida seria certamente o suficiente para fazer dele uma personagem dramática, mas à autora Ana Rocha interessou o lado mais pessoal da personalidade do poeta, pensador e filósofo açoriano. A dramaturga partiu da inconfidência de uma outra figura grada da “geração de 70”, Jaime Batalha Reis, ao círculo de amigos mais chegado, referindo o romance malogrado de Antero com uma titular francesa durante o ano de 1877.
Cruzando ficção e factos históricos, Rocha concebeu uma peça em quatro atos que deu ao encenador Carlos J. Pessoa a possibilidade de explorar três eixos dramatúrgicos: “o confronto com a ciência, o confronto com a política e o confronto com o amor”. Antero Q decorre numa estância termal nos arredores de Paris e encena o encontro do melancólico poeta com o fundador da neurologia moderna Dr. Charcot, com o revolucionário antimonárquico e anticlerical Blanqui, e com a independente Baronesa Nelly, por quem Antero sustentará “a paixão amorosa sem a conseguir consumar.” [texto: Frederico Bernardino/Agenda Cultural Lisboa]
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