A literatura é assunto da escola, desde os gregos - e Homero foi o manual escolar, por excelência -, observa lapidarmente Curtius na Literatura Europeia e Idade Média Latina. O mesmo autor não só assinala umas das funções primordiais da poesia, a pedagógica (aprender a gramática, i.e., a arte de ler e escrever), mas também a ideia de que a literatura europeia sempre dependeu da escola e de que a educação aí recebida é determinante para a constituição de uma tradição literária. Este colóquio promove uma reflexão em torno da afinidade entre literatura e escola, tomando como ponto de partida a obra de Adília Lopes, considerando que vários textos desta poetisa configuram um exemplo maior da relação inseparável entre texto literário e educação, particularmente sensível à função pedagógica da escola (nas suas diversas valências e nas diferentes disciplinas do currículo), mas também à possibilidade de uma educação constante através da literatura. Em Adília, a escola é o lugar de instrução, do ensino e da aprendizagem com professores e colegas, mas é também a vivência daquilo que compreende a etimologia grega da palavra: tempo livre e lazer (a autora diz-nos, aliás, que "sem liberdade não se aprende nada"). Sob estas múltiplas perspetivas, um conjunto de professores e investigadores foi convidado a escolher um texto da vasta Dobra de Adília, tomando-o ora para exercício de close reading, ora como ponto de partida para outras reflexões, inquirindo sobre algumas destas questões ou outras afins, como a relação entre literatura e escola; o ensino da literatura; a literatura como escola; as experiências de leitura do texto literário; a problemática do cânone, etc.