A Galeria Belard tem o prazer de apresentar "A Margem", a primeira exposição individual da artista plástica Zoë Sua Kay, que reúne um corpo de trabalho hiperrealista em que a artista, de dupla nacionalidade Neozelandesa e Portuguesa, procura a sua identidade e história. A herança nómada de Sua Kay dá-lhe simultaneamente uma sensação de escassez e de multiplicidade - uma dispersão - de origens, que a levou a cultivar um interesse particular naqueles que ficam, que se enraízam num lugar. Tendo passado os seus primeiros anos em Portugal, sob uma leve sensação de estar à margem causada pela educação estrangeira dos pais, o seu olhar sobre o país e os portugueses é como o de quem se observa de fora - familiar mas algo distante. O trabalho de Zoë Sua Kay parte de uma análise em larga escala às paisagens do corpo, como quem quer encontrar qualquer vestígio físico do espaço e do tempo. Ao observar minuciosamente a pele, a artista encontra a mediação entre o exterior e o interior, e as mais evidentes e as mais subtis reminiscências de uma vida. Os traços que a artista regista criam um mapa de vivências e estendem a possibilidade de interpretação e relação com as histórias dos corpos. Nas obras apresentadas nesta exposição, o mapeamento é feito a partir da pele e do mar – e das semelhanças das paisagens que simulam -, há uma procura das marcas deixadas por esses elementos que são definidores de uma identidade colectiva e, também, individual. Os rostos, as mãos, as barbatanas, as escamas, as cicatrizes dão provas de uma profunda familiaridade com o mar. Com a reflexão que a artista faz sobre estes vestígios em grande escala permite-se, e a nós, uma imersão nas experiências dos corpos com o mar, quase como forma de preencher o que sente ser uma sua lacuna identitária. Em “A Margem” o retrato tem indubitavelmente um papel preponderante no processo investigativo e criativo de Sua Kay. É a partir da pintura hiperrealista de figuras características de um tempo e de um espaço vincados na memória, que é expressa a procura detalhada por uma referência pessoal.
