Horário Terça a Domingo: 10h-13h e 14h-18h
Num momento em que vamos saindo da reclusão do confinamento e avaliamos os benefícios e os danos decorrentes desta suspensão generalizada, a artista Mónica de Miranda apresenta a exposição multimédia Mirages and Deep Time [Miragens e Tempo Profundo] repleta de personagens, figuras encarnadas a partir de fotografias, imagens em movimento e materiais impressos bordados. Estas personagens manifestam-se como forma de intervenção que transporta a sua mensagem sobre a materialização da nova ordem mundial emergente a partir da dissolução das histórias passadas em novas histórias à medida que a atividade humana vai moldando o mundo em evolução. Este dito Antropoceno tem criado múltiplas cronologias e, para a artista Mónica de Miranda, os artefactos do nosso tempo nunca poderão ser reduzidos a suportes, ilustrações e narrativas. Todos estes convergem em Mirages and Deep Time, sendo encarnados através das suas personagens. Dão-se importantes revelações no momento em que estas identidades e narrativas obscuras emergem ostensivamente a partir de metáforas e pistas visuais.
Para aquele que procura, existem princípios óbvios que precisam de ser reequacionados: o fio condutor que atravessa diferentes nações é a história global da colonização. A imagem do viajante sedento perdido num deserto que vê água refletida na areia, embora esta não exista, remete para a falsificação provocada pelo desespero, mas a humanidade tem moldado futuros através da imaginação. Como emergir para novas cronologias com uma imaginação moldada, não pelo desespero, mas pela liberdade? Nas ciências naturais, o Princípio da Incerteza de Werner Heisenberg estabelece as limitações da aferição da posição e momento das partículas subatómicas. E, na cultura contemporânea, o alcance e o significado da descolonização num mundo cada vez mais globalizado são tudo intangibilidades impossíveis de compreender.
Ao levantar pistas visuais e clichés bem conhecidos, Mirages and Deep Time, de Mónica de Miranda, circunscreve os problemas com tropos da descolonização. Não se trata de uma tarefa desesperançada, mas de uma indagação contínua e persistente que requer hipervigilância e uma compreensão dos limites da história aprendida. Mirages and Deep Time abre espaço aos aspetos espirituais e metafísicos para repensar a história e identidade negras no contexto da história portuguesa. Também promove um diálogo direcionado para a natureza e novas formas de criação de conhecimento ao abordar o maior desafio que o mundo contemporâneo enfrenta: as alterações climáticas na era do Antropoceno.
– Azu Nwagbogu, curador
Fonte: https://galeriasmunicipais.pt/exposicoes/mirages-and-deep-time/