'Podemos chamá-lo por vários nomes. Quando este ouvidor o descobriu, na adolescência, foi identificado como Lonesome Dragon num disco surpreendente que só não é mencionado como um dos mais importantes da história do jazz devido à sua bizarrice (era o mais ovni dos ovnis que percorreram os céus da América no final da década de 1960) e ao facto de ter ficado na sombra de Escalator Over the Hill, simplesmente porque repetia algumas figuras na sua ficha técnica – a do incrível Gato Barbieri, logo para começar. Tinha como título A Genuine Tong Funeral, o protagonista das execuções era Gary Burton, vibrafonista agora retirado, mas a compositora foi a mesma daquela ópera em que jazz, rock, folk, experimentalismo e poesia (a de Paul Haines) se mesclavam: Carla Bley.
Reza a história que o dito músico teve “divergências estéticas” (ou seja, houve uma zanga, e ao que parece bastante brava) com Carla Bley, recusou que o seu nome de baptismo surgisse no álbum e assim ficou registado um enigmático dragão nos anais do jazz. Foi já como Bob Moses que o vimos crescer em duas tendências muito específicas do género musical, a fusão, com a banda The Free Spirits, formada a meias com Larry Coryell (presente em A Genuine Tong Funeral, de resto) e com Pat Metheny e Jaco Pastorius (tocou no fundamental Bright Size Life), e o free, ao lado de luminárias como Paul Bley, George Gruntz, Sam Rivers, Burton Greene e Gunter Hampel, entre muitos outros. Quando mais tarde passou a liderar os seus próprios projectos, estes cada vez mais marcados pela sua entretanto descoberta espiritualidade, já foi (tem sido) como Ra Kalam. Que quer dizer, segundo ele, “O Som Inaudível do Sol Invisível”.' | Rui Eduardo Paes . Rimas e Batidas
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