Texto teatral sobre diferentes declinações do egoísmo, ou, dito de outro modo, as bolhas em que cada um se fecha e dentro das quais desliza. Quatro personagens: uma mãe solteira, Solange, o pai da criança, o Grande Amante, o Pai, avô da criança, e o Encenador, travam-se de razões em torno das suas idiossincrasias, apegados aos seus interesses mais imediatos, num retrato da sua progressiva alienação. A sequência das diferentes cenas, aludindo a um modelo trágico, coincide com uma celebração da vida das personagens, nos detalhes e reentrâncias dos seus paradoxos; a casca com a textura própria, que as distingue. O suicídio de Solange permite, porventura, pensar que o seu filho, Ricardo, estará pronto para abordar um Mundo Desconhecido, mais justo e fraterno, mas essa possibilidade não deve representar uma obrigação moral, ou um juízo de valor. A justiça e a fraternidade não decorrem de uma fórmula feliz ou de uma determinada conduta, mas antes de um encadeamento de peripécias cujo sentido não tem de ir ao encontro do que gostaríamos de encontrar.
Fonte: https://agendalx.pt/events/event/mundo-desconhecido/