EM 2020, O DESOBEDOC VAI A CASA Depois do Trindade e do Batalha no Porto, depois de ter aberto cinemas fechados noutras cidades e de uma incursão pelo CCOP em 2019, este ano o Desobedoc tinha planeado instalar-se numa antiga sala de cinema do centro da cidade, que há muitos anos não passa filmes. Não será ainda agora que o faremos, pelas razões evidentes. Mas nem por isso desistimos. Entre o 25 de abril e o 1º de maio, o Desobedoc andará por aí. Deambulante pelas ruas que deixaram de ser lugar de encontro, o filme de Ana Hatherly sobre a Revolução será projetado itinerantemente nas paredes da cidade, em andamento. À noite, nos muros e nas fachadas de alguns dos bairros da cidade, vai poder ver-se da janela uma seleção de curtas que escolhemos. E, sem substituir a experiência da sala de cinema aonde queremos voltar assim que possível, criámos uma programação online para estes dias de pandemia e confinamento. Serão três as sessões, com filmes acessíveis através de links disponibilizados nas nossas redes e apresentações e comentários online para nos encontrarmos de outra forma. No dia 25, à noite, contamos com o Fernando Rosas e o Miguel Cardina para conversar sobre o “Espírito de 45”, do Ken Loach. Numa Europa devastada pela II grande guerra, sucedeu-se à destruição o empenho e o entusiasmo que dariam origem ao serviço nacional de saúde do Reino Unido, aos programas de habitação pública, a uma política económica de planeamento democrático, de construção do estado social e de desmercantilização de direitos. Não ganharemos em recuperar a memória desse sobressalto criativo e dessa imensa força social para os tempos que aí vêm? No dia 30, homenageamos o Chato Galante, ex-preso político do franquismo, resistente anti-fascista que esteve connosco no ano passado e que foi uma das vítimas da COVID-19. Com o filme “Lesa Humanitat”, do Héctor Faver, lembramos os crimes contra a humanidade cometidos pela ditadura espanhola, mas também a luta pela justiça e contra a impunidade. Connosco, teremos o Francisco Louçã à conversa com o Martí Caussa e a Roser Rius, ex-presos políticos e militantes pelo dever democrático do não esquecimento. No dia 1 de maio, vamos ao trabalho. Aos ecrãs de cada um e de cada uma trazemos uma sessão com 5 curtas metragens que formam um mosaico sobre várias das facetas do trabalho. Três vídeos de agitação feitos no quadro do MayDay Porto retratam com ironia esquemas de precarização como os recibos verdes, o trabalho temporário ou a empresarialização dos indivíduos e as respetivas narrativas empreendedoras de legitimação. Um outro documentário transporta-nos para o início do século e para as imagens do trabalho portuário e industrial do Porto de há cem anos. A ficção “Em Branco” mostra-nos o quotidiano desse trabalho invisível e não reconhecido das cuidadoras informais. À conversa, o deputado José Soeiro, a investigadora Maria da Paz Lima e a atriz Cleia Almeida. Manteremos, em todas as sessões, as distâncias físicas de segurança, mas a proximidade do costume. Como sempre, é livre a entrada nesta sala comum. Como livre se pretende o espírito e o debate.