O cinema, o tempo, as margens. Na programação convergente do Anozero, a programação de cinema conduz-se por uma relação estreita com o tema da bienal e a(s) sua(s) sensibilidade(s).
Estamos na margem que vai do sortilégio de um filme ao encantamento que transporta o espectador para um mundo que dura, todo, o tempo do filme. Encontra-se uma aura que pode conduzir ao profundamente sagrado, inscrito no tempo.
Convida-se quem está, quem vê, a deixar levar-se pelas imagens, mais do que na procura de uma narrativa que pode não existir.
Paisagens, imagens, fotogramas, em que podemos precisar de tempo para os seus sentidos/texturas sedimentarem entre as longas margens da nossa sensibilidade.
Nesta proposta de programação, quer-se também mostrar e experienciar a arte cinematográfica na evolução das diferentes formas de visualizar e ouvir a obra fílmica.
Nestes dois intensos dias, nomes singulares de uma filmografia sublime estarão a preencher toda a nossa tela de uma imensa beleza.
Assim, nesta bienal, começa por se evocar a obra magistral de António Reis e Margarida Cordeiro, para os seus “filmes escondidos” poderem ser vistos em sala (“Jaime”, “Trás-os-Montes”, “Ana” e “Rosa de Areia”).
Além desta dupla ímpar do cinema de autor, teremos outros nomes excecionais do cinema mundial: Buster Keaton (“Marinheiro de Água Doce”); Roberto Rossellini (“Stromboli”); Jean-Luc Godard (“A Nossa Música”); e, no final, um filme concerto “A Casa na Praça Trubnaia” de Boris Barnet, musicado com uma versão dos Mão Morta Redux.
sex 06 dez 15h00
António Reis, Margarida Cordeiro
Jaime (1974) Curta-metragem/Documentário, 40 min
É um documentário que retrata a vida do doente mental Jaime Fernandes, internado no hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, em Lisboa. Como experiência, é um dos filmes marcantes do Novo Cinema.
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Rosa de Areia (1989), 1h20
É o último filme de António Reis, concluído cerca de dois anos antes da sua morte. Mais uma vez, é uma peregrinação por Portugal, como lugar de mito e como lugar mítico. É a história de um homem perseguido por um tigre que caiu num poço onde outro tigre o esperava. Ou a história de um pai ressuscitado dos mortos para dar de beber à filha um vinho feito de sol, de poeiras e de chuva.
sex 06 dez 18h00
Ana (1985), 1h55
Tempo interior. Quase silêncio. Luz. A natureza como imemorial casa exterior. Inverno. O sangue recolhido nas duas mãos, a mãe Ana. São três gerações: uma avó, um filho cientista que vive na cidade e passa férias na aldeia e duas crianças – neto e neta. Uma harmonia que é quebrada com a morte de Ana.
sex 06 dez 21h30
Trás-os-Montes (1976), 1h45
Trata-se de um documentário ficcionado. Especificamente, retrata personagens típicas da Terra Fria, o nordeste montanhoso de Portugal, inventariando hábitos seculares, num ambiente rural majestoso. Dotado de uma linguagem acentuadamente poética distinta da narrativa clássica, é uma das obras representativas do movimento do cinema português.
sáb 07 dez 11h30
Marinheiro de Água Doce De Buster Keaton, (1928), p/b, 1h20
História de um marinheiro desajeitado que tenta ajudar o pai e acaba por se apaixonar pela filha do comandante de um barco rival. Depois de muitas confusões, tudo acabará com uma autêntica batalha naval. Destaque ainda para a fabulosa sequência do furacão em terra. Em suma, um filme divertido e para toda a família.
sáb 07 dez 15h00
Stromboli De Roberto Rossellini (1949), 1h40
Primeiro filme de Rossellini com Ingrid Bergman (que partiu de “Under Capricorn” para “Stromboli”) marcou uma viragem importante no percurso do realizador e no da atriz. Na época, Éric Rohmer comentou assim o filme: “Stromboli”, grande filme cristão, é a história de uma pecadora tocada pela graça.
Por muitas razões, é uma das mais extraordinárias experiências em toda a história do cinema. “Este filme, duma beleza alucinante, é um filme sobre o cosmos. […] Stromboli é o poema da criação.” (João Bénard da Costa)
sáb 07 dez 18h00
A Nossa Música De Jean-Luc Godard (2004), 1h20
Filme experimental em três partes, explorando violência, media e moralidade: “Inferno” mostra imagens de conflitos mundiais; “Purgatório”, uma palestra com escritores e poetas em Sarajevo; “Céu”, uma repórter na praia guardada pelas forças americanas.
sáb 07 dez 21h30 Filme-concerto
A Casa na Praça Trubnaia De Boris Barnet (1928) 1h26
Musicado com uma versão dos Mão Morta
É uma sátira à hipocrisia da pequena burguesia, que sobrevivera na URSS à Revolução e que continuava, sorrateiramente, a explorar os necessitados.
“A Casa na Praça Trubnaia”, filme desconhecido durante muitos anos no Ocidente, foi redescoberto na década de 1990 e é considerado um clássico do cinema russo. Uma das obras-primas de Barnet, o outsider do cinema mudo soviético.
Local auditório TAGV
Organização em parceria Anozero’19 Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, TAGV, Colégio das Artes, Leopardo Filmes Curadoria Luísa Lopes Apoio Cinemateca Portuguesa Programação Convergente Anozero’19 Bienal de Coimbra
Fonte: https://tagv.pt/agenda/anozero19-bienal-de-coimbra/