A artista apresenta uma instalação e um filme de ensaio que resultou de um processo de pesquisa coletivo e que introduz vários formatos de imagem em movimento como o vídeo, o 16 mm e a animação 3D, numa abordagem sobre dinâmicas de crioulização, no seu contexto histórico e biológico – entre elas, a dimensão subversiva de códigos linguísticos e noções de tecedura.
Os cartões perfurados, originalmente desenhados para a produção têxtil, foram fundamentais para o desenvolvimento da tecnologia informática. O seu código binário está mais próximo do princípio da tecelagem do que do ato da escrita. A tecedura de mensagens cifradas de resistência social e política nos têxteis ou as apropriações da língua do colonizador pelo crioulo são apenas dois aspetos do passado recente que nos ajudam a pensar, no presente, as novas economias digitais e os seus procedimentos e códigos. A visualização digital do projeto de uma zona franca ultraliberal planeada por empresas multinacionais nas ilhas Bijagós atualiza, com uma nova face, a violência que existiu, há alguns séculos, com a criação de entrepostos de escravos na então região dos Rios da Guiné do Cabo Verde.
O filme é uma das três «estações» ou momentos expositivos previstos pela artista numa trajetória internacional de longa duração, que inclui três instituições: Haus der Kulturen der Welt, em Berlim, Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e Tabakalera, em San Sebastián.
Filipa César (Porto, 1975) tem apresentado o seu trabalho nacional e internacionalmente em contextos de cinema e arte contemporânea, tais como Berlinale, Doc’s Kingdom, Flaherty Seminar, MoMA, Mumok, Manifesta 8, SAVVY, Jeu de Paume, Tensta konsthall, Harvard Art Museums e Haus der Kulturen der Welt.
Curadoria: Leonor Nazaré
Fonte: https://gulbenkian.pt/museu/evento/filipa-cesar-crioulo-quantico/