O RITMO Ângelo Ferreira de Sousa Ciclo "A Política das Imagens" com curadoria de João Baeta « (…) Num arremesso empurrou para a mesa uma pobre cadeira caduca onde se abateu com amargura — e começou então a destruir as cartas e os papéis de um modo estranho, que me maravilhou. Dobrava cada folha ao meio, esmeradamente: depois, violento e certeiro, ainda a dobrava em quarto; depois com uma atenção sombria, ainda a dobrava em oitavo. Sob a unha raivosa achatava as dobras — e, empunhando uma faca como um ferro de vingança e morte, cortava os papéis finamente, fazendo com dois golpes pequenos maços bem esquadrados, que ia amontoando numa resma nítida e fofa. E todo este lento, paciente trabalho de precisão e simetria, o continuava com um modo revolto e trágico. Fascinado, surgi do vão da janela onde me refugiara, e parando à borda da mesa: - Oh, Antero, quanta ordem você tem na destruição! Ele dardejou sobre mim dois olhares devoradores. Depois considerou, ainda enrugado, a pilha acertada dos papéis cortados, e um sorriso, aquele sorriso de Antero que era como um sol-nascente, iluminou, fez toda clara e rósea a sua boa face onde havia um não sei quê de filósofo de Alexandria e de piloto do Báltico: - O ritmo - murmurou - é necessário mesmo no delírio. (…) » Eça de Queiroz in "Anthero: um génio que era um santo", 1896 / Ângelo Ferreira de Sousa [Porto, 1975] Vive e trabalha entre Paris, Barcelona e Porto. Licenciou-se na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Participa desde 1996 em diversos projectos e exposições. É um dos membros fundadores do espaço Caldeira 213 (1999/2002). Artista residente em Hangar (Barcelona, 2001/ 2003), Triangle - France (Marselha, 2003), Duende Studios (Roterdão, 2004/2005) e no espaço The Window (Paris, 2013). Têm-lhe sido atribuídas diversas bolsas, nomeadamente do Governo da Catalunha no projeto "Schengen sem esforço". Simultaneamente é tradutor literário para diversas editoras, tais como: Relógio d'Água, Cotovia, Combate etc. E na qualidade de tradutor é membro da companhia de Teatro Artistas Unidos (Lisboa). São diversos projectos e exposições individuais que tem realizado, destacando-se: Que Fazer? - Sismógrafo, Porto, 2016-17 ; Orange - Rosalux, Berlim, 2016 ; Bibliothèque Trouvée - The Window, Paris, 2013 ; Squamata - Banco Central, Rio de Janeiro, 2012 ; Walhalla - performance - Berlim e Kassel, 2012 ; Praça do Anjo I a VII, com Carla Cruz - Porto, 2007-18 ; Biblioteca Pública - EspaiDos, Terrassa, 2010 ; Fox Power 800 - MEWS, Londres, 2010; Biblioteca - Galeria Plumba, Porto, 2008 ; Passage des Panoramas - Lacosa, Barcelona, 2007; Intelligence Services - Milão, 2005 ; 70X7 - performance - Museu Vostell, Cáceres, 2005 ; Napoleón avait-il lʼaccent corse? - Galeria RLBQ, Marselha, 2003. E das dezenas de coletivas, pode-se salientar: Reality Machines - CRASSH, University of Cambridge, 2018 ; Já reparaste como o ponto de interrogação... - Atelier-Museu Júlio Pomar, Lisboa, 2016 ; Gramáticas Flexíveis - Casa das Artes, Porto, 2015 ; Devido à chuva a revolução foi adiada - Plataforma Revólver, Lisboa, 2014 ; Proyector 13 e 17 - Madrid, 2013/17 ; A partir de mañana, todo - Centro de Cultura Digital - México, 2012 ; Dig-Dig - Plataforma Revólver, Lisboa, 2012 ; Problemas de tipo griego - Fundación Bilbaoarte, País Basco, 2012 ; AMIW - VBKÖ, Viena, 2011 ; Biennal dʼArt Contemporain - Rennes, 2010 ; 2nd Layer - Spike Island, Bristol, 2008 ; Crosstalk video art - Budapeste, 2008 ; Espontani - Centre d'Art de Santa Mònica, Barcelona, 2007 ; Pan-carta - Lugar a Dudas, Cali, Colômbia, 2007 ; Busca-Pólos - Guimarães e Coimbra, 2006 ; Alrededor de todos juntos - Galeria ProjectSD, Barcelona, 2006 ; Arte_facto - Montevideu, Uruguai, 2005 ; Quartel - Porto, 2004. www.angeloferreiradesousa.net [EN] THE RHYTHM Ângelo Ferreira de Sousa Cicle "The Politics of images with curatorship" by João Baeta « (…) He threw a poor old chair at the table where he bitterly fell – and then began to destroy the letters and papers in a strange way, which astonished me. He folded each sheet in half, painstakingly: then, violently and accurately, he still folded it in fourth; then with somber attention, he still doubled it in eighth. Under his ragged nail he flattened the folds - and, wielding a knife like an iron of vengeance and death, he cut the papers thinly making two scraps of small well-scattered packs, which he heaped in a clear soft ream. And all this slow, patient work of precision and symmetry, continued with a tragic and unruly mood. Fascinated, I came out of the window where I had taken refuge, and stopped at the edge of the table: - Oh, Antero, how much command you have in destruction! He gave me two devouring glances. Then he considered, still wrinkled, the sharp pile of the cut papers, and a smile, that smile of Antero that was like a sunlight, brightened, which made all clear and rosy his good face where there was je ne sais quoi of philosopher of Alexandria and pilot of the Baltic: - The rhythm - he murmured – is necessary even in delirium. Eça de Queiroz in "Anthero: a genius who was a saint", 1896 / Hangar (Barcelona, 2001/ 2003), Triangle - France (Marselha, 2003), Duende Studios (Roterdão, 2004/2005) e no espaço The Window (Paris, 2013) Ângelo Ferreira de Sousa [Porto, 1975] Lives and works between Paris, Barcelona and Oporto. Studied fine arts at the Faculty of Fine Arts of the University of Porto. Since 1996 he has participated in several projects and exhibitions. He is one of the founding members of the space Caldeira 213 (1999/2002). The artist resided in Hangar (Barcelona, , 2001/ 2003), Triangle - France (Marseille, 2003), Duende Studios (Rotterdam, 2004/2005) and The Window (Paris, 2013). He has been the recipient of some grants, notably from the Government of Catalonia in the project "Schengen without effort". Simultaneously he is literary translator for several publishers, such as: Relógio d'Água, Cotovia, Combate, etc. And as a translator he is a member of the Teatro Unidos Unidos company (Lisbon). There are several projects and individual exhibitions that have been carried out, highlighting: Que Fazer? - Sismógrafo, Porto, 2016-17 ; Orange - Rosalux, Berlim, 2016 ; Bibliothèque Trouvée - The Window, Paris, 2013 ; Squamata - Banco Central, Rio de Janeiro, 2012 ; Walhalla - performance - Berlim e Kassel, 2012 ; Praça do Anjo I a VII, com Carla Cruz - Porto, 2007-18 ; Biblioteca Pública - EspaiDos, Terrassa, 2010 ; Fox Power 800 - MEWS, Londres, 2010; Biblioteca - Galeria Plumba, Porto, 2008 ; Passage des Panoramas - Lacosa, Barcelona, 2007; Intelligence Services - Milão, 2005 ; 70X7 - performance - Museu Vostell, Cáceres, 2005 ; Napoleón avait-il lʼaccent corse? - Galeria RLBQ, Marselha, 2003. From the collective, we can point out: Reality Machines - CRASSH, University of Cambridge, 2018 ; Já reparaste como o ponto de interrogação... - Atelier-Museu Júlio Pomar, Lisboa, 2016 ; Gramáticas Flexíveis - Casa das Artes, Porto, 2015 ; Devido à chuva a revolução foi adiada - Plataforma Revólver, Lisboa, 2014 ; Proyector 13 e 17 - Madrid, 2013/17 ; A partir de mañana, todo - Centro de Cultura Digital - México, 2012 ; Dig-Dig - Plataforma Revólver, Lisboa, 2012 ; Problemas de tipo griego - Fundación Bilbaoarte, País Basco, 2012 ; AMIW - VBKÖ, Viena, 2011 ; Biennal dʼArt Contemporain - Rennes, 2010 ; 2nd Layer - Spike Island, Bristol, 2008 ; Crosstalk video art - Budapeste, 2008 ; Espontani - Centre d'Art de Santa Mònica, Barcelona, 2007 ; Pan-carta - Lugar a Dudas, Cali, Colômbia, 2007 ; Busca-Pólos - Guimarães e Coimbra, 2006 ; Alrededor de todos juntos - Galeria ProjectSD, Barcelona, 2006 ; Arte_facto - Montevideu, Uruguai, 2005 ; Quartel - Porto, 2004. www.angeloferreiradesousa.net