Jaime, de António Reis e Margarida Cordeiro (Cinema+Palavras)

Com Maria Filomena Molder
Sala Luís Pina
Cinemateca Portuguesa

"Vi as redes por dentro"
Na Primavera de 1976, no quadro de um debate sobre psiquiatra/anti-psiquiatria organizado por mim e pelas minhas alunas do Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, foi projectado o filme Jaime de António Reis e Margarida Cordeiro. Tinha visto esse filme em 1974 depois do 25 de Abril e fiquei siderada com o modo como se filmavam os despojos daquele cujo nome dava o título ao filme. 
A loucura é uma pertença nossa talvez desde que as primeiras formas de vida sedentária tiveram início e, desde que houve testemunhos disso, ela foi associada a ferimentos religiosos, a forças criativas, ao amor, à possessão animal, ao deus-dará. As cartas e outros escritos e os desenhos de Jaime Fernandes, filmados por António Reis e Margarida Cordeiro, reconduzem-nos a esses elementos arcaicos que escapam a qualquer cronologia.  Neles se saboreia também o anseio de ser uma pedra, uma ilha, e a dor que amarga a boca: “Ninguém. Só eu”. 
Porém tudo isto tem tempo e lugar. Lisboa e o Hospital Miguel Bombarda, idade quando do internamento, anos passados, e os mistérios da terra a que, depois da entrada no hospital, Jaime Fernandes nunca mais voltou, Barco, na Beira Baixa.
Maria Filomena Molder