O Auditório Municipal de Ponte da Barca recebe no próximo dia 17 a homenagem ao barquense Laureano Barros. Profundo entusiasta da razão, da oratória e do contraditório, Laureano esmiuçava os temas até às últimas consequências. Para ele, eram um salvo-conduto contra a efemeridade de tudo o resto, como se nada, além dos livros, estivesse à altura dos padrões de excelência que estabeleceu. Conhecedor da biografia de Laureano Barros, Pacheco Pereira vai apresentar o seu projeto de biblioteca e arquivo Colecção Ephemera, com a chancela da editora Tinta-da-China, a mesma editora que irá publicar o livro sobre Laureano "O grilo na varanda, Luiz Pacheco para Laureano Barros. Correspondência 1966-2001". O fadista Ricardo Ribeiro encerra a noite com o seu mais recente álbum “Hoje é assim, amanhã não sei”. Todos os eventos são de entrada livre. Primeiras edições de Camões, Eça, Pessoa, Antero, obras juvenis de Guerra Junqueiro, Torga ou José Gomes Ferreira e edições raras de poetas quinhentistas de Ponte da Barca, a biblioteca cresceu em majestade, tornou-se maior do que si própria. O Presidente da Câmara barquense, Vassalo Abreu, lamenta o “desmembramento da biblioteca que acabou por ser vendida em alfarrabistas e leilões, após a sua morte”. Nas palavras de Vassalo Abreu, “esta homenagem era o mínimo que poderíamos fazer. Recordar o espólio que foi guardado em casa do colecionador ao longo de vários anos em Ponte da Barca e, ao mesmo tempo, olhar para o futuro com o contributo de Pacheco Pereira para manter o património e dinamiza-lo”. Foi no Porto, nos tempos de estudante, que Laureano Barros começou a comprar livros. Frequentava os alfarrabistas e iniciou uma coleção de livros a quem ergueu uma fidelidade. Aluno exemplar, foi professor de Matemática, mas cedo se afastou por contestar o governo salazarista e a pide. Montou uma sala de explicações, em frente ao mercado do Bolhão que o sustentou durante mais de 20 anos. Os rendimentos das propriedades familiares de Ponte da Barca, quando chegavam, convertiam-se imediatamente nalguma edição literária. Depois do 25 de abril, entre vários convites para voltar a lecionar nas mais prestigiadas universidades e escolas de Portugal, o seu perfeccionismo e rigor não o permitiam fixar-se por muito tempo no mesmo local. Não suportava situações menos que perfeitas e preferia isolar-se, mesmo que isso tivesse implicações diretas na sua vida e carreira. Laureano acabou por se isolar em Ponte da Barca, terra onde passaria os últimos 30 anos de vida.