22:00 até às 01:00
Outros Formatos II

Outros Formatos II

Esta é a segunda edição de um projecto do BCN – Ballet Contemporâneo do Norte que pretende desafiar os coreógrafos e criadores contemporâneos a proporem o seu trabalho artístico através de uma convocatória para a criação de espectáculos de curta duração, integrando o elenco da companhia. O projecto engloba cinco peças de curta duração cuja apresentação, em conjunto, terá a duração de um espectáculo regular. Propõe-se para a presente edição a apresentação de dois trios — um de Renata Portas, "Que ruído faz o teu corpo contra o meu?", e outro de Flávio Leihan, "Haiku" —, um solo de Jorge Gonçalves, "Holding the hands at the tip of my words", e dois duetos: "Incoherent Conversation" de Sade Risku, e "Insólidos", de Sérgio Diogo Matias.

Criações | Flávio Leihan, Jorge Gonçalves, Renata Portas, Sade Risku e Sérgio Diogo Matias para o Ballet Contemporâneo do Norte
Intérpretes | Dinis Machado, Flávio Leihan, Sade Risku e Sérgio Diogo Matias
Acompanhamento e coordenação geral | Dinis Machado e Susana Otero
Documentação | Rogério Nuno Costa
Produção | BCN
Produção Executiva | Inês Nogueira
Assistência de Produção | Filipa Duarte
Desenho de Luz | Diogo Mendes
Fotografia de Cena | Miguel Refresco
Design Gráfico | Eduardo Ferreira

FLÁVIO LEIHAN, "Haiku"
Haiku é um universo em plena mutação que - sob a forma de seres com cabeças de rãs e de serpentes - se sucedem na génese do universo, apresentando a ideia do “olho de peixe”. O "homo" que ainda vai demorar a tornar-se “sapiens”, que desde há muito se vinha alimentando de cadáveres encontrados nas grutas de Beni-Hassan e de pequenas peças de caça. Os esqueletos dos deuses fingindo que não choram enquanto tapam a boca com as mãos de sangue para que ninguém os ouça. As vozes dos animais no corpo, naquele pedaço do mundo de que me habituei a gostar. O cigarro avulso a um passo decisivo da nacionalidade nova do tempo e do espaço dos seus antepassados. Portanto, se eu hoje tivesse que orientar um jovem espírito para começar a jornada do transe extático, levá-lo-ia a ser um índio entendido no seu sentido mais amplo, desde as grutas de Beni-Hassan, por um lado, até ao gato Ohno-Tatsumi, por outro.

JORGE GONÇALVES, "Holding the hands at the tip of my words"
A convite de Dinis Machado e do Ballet Contemporâneo do Norte, fui convidado para coreografar um solo para a "Barco Dance Collection". Neste momento, os meus interesses têm-se desenvolvido no que denomino como práticas de indexação e focalização, em específico, no modo como o performer desenvolve estados físicos e não ficcionais em relações interpelativas com uma audiência. Assim, o performer opera num espaço comum e não autónomo da audiência, para orquestrar uma coreografia de relações com objectos e espaços imaginários, espectadores e abstrações. Dinis Machado, através de processamentos visuais e verbais de acontecimentos performativos, irá ser conduzido por uma gestualidade compulsiva por entre simulações intermináveis de espaços fictícios e de diferentes temporalidades. Todas as suas palavras e gestos irão revelar um mundo que não existe, mas que é indiciado e apreendido através do seu corpo. O público reside no limiar entre participação e contemplação, o que questiona politicamente o modo como este espaço performativo se constrói em coalescência com o público.

RENATA PORTAS, "Que ruído faz o teu corpo contra o meu?"
Um espetáculo que nasce da ambição de abordar desvios poéticos: a poesia de Maria Gabriela Llansol, os desenhos de Hokusai, o tentacle porn, Oeste do mundo (há latitudes para o desejo?). Maria Gabriela Llansol fala-nos da espera, do peso dos corpos, da insustentabilidade do desejo que se esconde -em todo o lado- do véu, do vestido, da folha de uma àrvore. Interessou-nos cruzar este mundo, que perseguimos há algum tempo, de um mundo vergado à linguagem, onde a palavra é sustentação e tensão com os
corpos e a sua representação no Japão - do universo do Shunga, ao tentacle porn, a fusão entre a beleza rarefeita (que espreita nos lugares mais inesperados, na falha, na brecha, no algures,na terra de nínguem), com a despudorada vontade de explorar os corpos dos intérpretes - princípio e fim de todas as coisas, vasos, flores, objectos e corpos renascidos, ora domados, ora ausentes, ora povoados por nervos e palavras. Bem-vindos a território desconhecido.

SADE RISKU, "Incoherent Conversation"
If I take a walk in my mind and I take you with me? Are you with me? Do you enjoy the freedom? I take a walk in my mind and look around in there, enjoy the freedom. Are you with me? And so, if I am in my mind, where am I really and what can I find in there? You are in my mind and I have something in mind. It is my body-mind talking with your body-mind and thus we could have a mindful physical conversation. And if we together take a walk, it’s a little trip. In the mind. A mind trip. Does together mean we need to negotiate? If I we plan everything, is there no surprise? In my mind, I can read your mind and we have a common mind and thus master telepathy –obviously not, I’m just dreaming, am I not? Would that make it less real? How real is this anyway if it’s a play? Anyhow, we play the game.

SÉRGIO DIOGO MATIAS, "Insólidos"
Dois corpos-textura que vivem uma impossibilidade fictícia de se moverem. Um exercício que procura a textura plástica do movimento, o desdobramento de imagens e um certo brutalismo pós-modernista. Sugerem-se dois corpos estátua que vivem uma atmosfera densa e catártica. Evocar aquilo que não se vê, mas que possui uma carga física de peso e de sustentação e que se traduz num esforço ou na sua hipérbole.
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