Function Estávamos em 1998, quando o então ainda jovem e quase desconhecido Dave Sumner, contando na altura com menos que uma mão cheia de lançamentos em nome próprio, se lançou na sua 1ª aventura editorial com a fundação da Infrastructure New York, assim mesmo orgulhosamente designada com o nome da sua cidade natal. Essencialmente uma montra para as suas próprias produções e de um muito restrito leque de nomes geralmente alinhados com o chamado “som de Birmingham”, de Inglaterra (pensem em Regis, Female e afins), a Infrastructure NY rapidamente cimentou uma posição de respeito no panorama do techno mais industrial e opressivo da época. Mas tanto a label como o seu mentor cravaram indelevelmente os seus nomes na história do techno, com a estrondosa ‘Montage´, de 2003. ‘Montage´ era, de certa forma, o som de um exército de bulldozers a deixar Nova Iorque em escombros, e assegurou que quando a Infrastructure entrou em hiato pouco depois, em 2005, os suspiros de saudades dos fãs do género se acumulariam durante 9 anos até que, em 2014, a label acordou da sua hibernação, algo inesperadamente, com o EP ‘Odeon’, executado em parceria por Function e Inland. Entre um momento e outro, Function criou com Regis, Female e Silent Servant a seminal Sandwell District, editou álbuns e EPs na Ostgut Ton e tornou-se residente no Berghain, constituindo-se numa instituição da música electrónica. Com o renascer da Infrastructure NY, Sumner provou que na música, muitas vezes vale a pena deitar tudo abaixo e reconstruir de forma diferente, com as mesmas peças. Acolitado por nomes novos como Campbell Irvine ou Post-Scriptum, ou valores seguros como Steve Bicknell, Efdemin, Vatican Shadow e Rrose, Function está a re-escrever a lenda, tendo agora o Lux como um dos seus palcos. Efdemin Talvez poucos se recordem, mas já passaram 6 anos desde que Efdemin nos visitou, também na altura integrando o cartaz de uma Sonic Fresh. A sua postura efusiva em palco e o delicado balanço que nos apresentou de house e techno borbulhante e insinuante, significaram que ter o seu nome em cartaz no Lux era uma visão ansiada. Ainda mais essencial se tornou esse regresso, desde que em 2014 lançou o absorvente álbum ´Decay´, na Dial de Lawrence e Carsten Jost, sem dúvida um documento fundamental para a compreensão da encruzilhada de linguagens classicistas e modernas que constituem muita da melhor música de dança actual, e que conseguiu o raro feito de ser acolhido de forma entusiástica por críticos, ravers e DJs, de diversos espectros sonoros. Mais de década e meia de experiência de produção e de DJing em alguns dos espaços mais importantes da cena actual, e que nos trouxeram preciosidades como ‘America’ e ‘Acid Bells’, ajudam também a entender a reverência habitualmente prestada ao alemão Phillip Sollmann. Ainda assim, todas estas partes juntas, não pintam o todo. Efdemin é um alquimista sonoro capaz de criar as mais viciantes poções a partir dos, aparentemente, mais inofensivos dos elementos. A invenção do novo a partir do familiar, perante os nossos olhos, no Lux. Vatican Shadow Uma dos factores que mais visibilidade tem trazido ao projecto Vatican Shadow, desde o seu surgimento em 2011, é o de conter essa raridade na cena electrónica, um discurso de observação da realidade política e de confronto de culturas e formas de sociedade dos dias que correm. Com títulos de faixas a soarem a manchetes de jornal e a frequente utilização de influências musicais do Médio Oriente e sonoridades cinemáticas, as produções de Dominick Fernow são tanto flashes noticiosos como subversões das estéticas dançantes, centradas na chamada “Guerra ao Terror” levada a cabo pelas potências do Ocidente. É de supor que, com o processo eleitoral em curso nos EUA, ao já de si prolífico Fernow, não vai faltar inspiração tão cedo. Em todo o caso, este guerrilheiro sonoro, com raízes nas cenas noise e black metal, onde ainda hoje é figura de destaque enquanto Prurient, atingiu já, de forma tão surpreendente como justificada, um estatuto de proa na cena techno, de que é demonstrativa a sua presença no catálogo da Infrastructure NY, ou a sua presença habitual no cartaz de alguns dos mais importantes eventos techno actuais. Atente-se como Vatican Shadow conseguiu criar, com ‘More Of The Same’, uma das mais portentosas faixas de techno de 2016, e perceba-se como às vezes, é dos “outsiders” que surgem as mais importantes afirmações de um género musical. Poderosas doses de realidade, numa noite de sonho. Textos: Nuno Mendonça